Ed. Record, 2014 - 240 páginas: |
O professor Heliseu será homenageado por uma carreira exemplar na universidade à qual dedicou a maior parte de sua vida. Enquanto prepara o discurso de agradecimento — justo ele, tão acostumado a transformar assuntos espinhosos em grandes aulas — é tomado por uma sucessão incontrolável de memórias e revisita momentos nem sempre felizes de sua vida: a convivência com o pai rígido; a morte da mãe, o tempo no seminário; o casamento com Mônica; o relacionamento conturbado com o filho; a paixão pela misteriosa Therèze. As lembranças se cruzam com a história do Brasil, desde o regime militar aos governos mais recentes, e o acerto de contas de Heliseu com seu passado transforma-se também no acerto de contas de um país com sua história.
Onde comprar:
Para contar a história da própria vida é preciso coragem. Revisitar amores (bem) vividos e experiências positivas, mas também voltar aos caminhos espinhosos dos insucessos e das dores adormecidas como parte do processo. Nessa reconstrução dos fatos, Cristovão Tezza nos insere no momento ímpar da vida de Heliseu: as horas que antecedem a cerimônia em sua homenagem na universidade onde lecionou por longos anos.
Heliseu é um homem de 70 anos, viúvo, introspectivo e metódico, professor de Filologia Românica. Enquanto tenta formular seu discurso de agradecimento – entre o café, banho e a saída para a celebração -, confabula com o leitor sobre o que deverá falar: sua vida profissional e pessoal, suas dificuldades e fantasmas? Sob sua ótica, em primeira pessoa, intercala presente e passado, saudade e culpa, fragmentando cenas de sua vida pessoal em ideias descontínuas: o casamento fracassado, a relação distante com o filho homossexual, os dias de paixão ao lado de Therèze.
"Permitam-me o breve calor do sentimento, senhores: Mônica, com dois ou três beijos, me devolveu a vida. O que eu fiz com elas, Mônica e a vida, é outra coisa. Chegaremos lá." (p. 125)
É este exame íntimo que recheia toda a narrativa. Num solilóquio envolvente, Heliseu vai unindo pedacinhos da memória e constatando que, ao contrário da carreira brilhante e digna de homenagem, a vida amorosa e familiar foi uma sucessão de quedas, assim como “a queda das consoantes intervocálicas” – sua obsessão como filólogo. A perda precoce da mãe e a desconfiança de que o pai tenha sido o culpado o atormentam. O sentimento de anulação como homem e pai depois do nascimento de Eduardo, o único filho que teve com Mônica. A morte acidental da esposa que levanta as suspeitas do filho contra o pai. O encontro tardio com Therèze, paixão que mescla o amor pela profissão e o envolvimento antiético do orientador com a aluna de doutorado.
“(...) por que, senhores, o professor se encantou por ela à primeira vista? Fechou os olhos, ponderando as possibilidades: um, porque eu estava disponível, o desejo da traição já vinha me tomando a alma há meses, esperando a sua presa, ou o seu momento, embora tudo não passasse de espera - nenhuma iniciativa. (...)É ela que me encontra - não tenho culpa. (...) e voltou a se concentrar em Therèze, que sorria diante dele, as pernas cruzadas, o mesmo sorriso ambíguo de quem pede desculpas mas aposta na própria graça para ser desculpada, a chantagem inocente da beleza: Desculpe, professor." (p. 134)
O autor também utiliza a narração em terceira pessoa, enquanto discorre sobre a rotina automatizada de Heliseu, amalgamando oralidade e escrita num texto que pede a atenção do leitor. Poucos diálogos em 240 páginas de um imenso monólogo interno do professor: é nessa exposição que Tezza amplia a visão dos fantasmas que revisitam Heliseu. Olhando para trás, num curso de memória instável e não linear, preenchendo os espaços que as recordações não alcançam com trechos em português arcaico (outra ideia fixa do protagonista) e fatos políticos do Brasil da década de 80 até hoje, o velho homem vai matutando um discurso de agradecimento e percebendo que busca uma redenção. Sim, agora que a vida deu uma trégua, Heliseu anseia por libertação.
"Acho que todas as pessoas do mundo deveriam receber esta medalha, independentemente do que fizeram na vida, sejamos generosos, deveriam receber medalha só pela oportunidade de, numa rápida cerimônia de acerto de contas, um pré-juízo final, rever a vida em poucas palavras, aquela essência que sempre nos falta, o tiquinho de nada que, se a gente chegasse lá, tudo resolvia com tranquilidade. (...) Deus não joga dados, joga?" (p. 71)
Não é uma leitura fácil, apesar das poucas páginas. O texto é denso, exige envolvimento e compaixão por este personagem tão humano e real. Heliseu tem a coragem de dividir com o leitor as angústias secretas que não soube elaborar. Tudo o que não foi dito ou resolvido é ruminado. Paciência, leitor. Particularmente, personagens que revelam seus segredos me encantam.
Tezza é (usando uma expressão sua) um 'pensador de miudezas'. No auge da maturidade literária do autor premiado, considero este livro uma obra magnífica!
http://skoob.com.br/livro/380511
Cortesia da Editora Record |
Manu Hitz Cearense, fisioterapeuta e mãe. “Eu não tenho o hábito da leitura. Eu tenho a paixão da leitura. O livro sempre foi para mim uma fonte de encantamento. Eu leio com prazer. Leio com alegria.” Ariano Suassuna. |
Manu, esse livro realmente parece denso.
ResponderExcluirMas como não seria? Falar do íntimo de um ser humano não pode ser menos do que complexo. Nossas experiências de vida são tão particulares que quem vê de fora jamais consegue compreender como elas realmente impactam nossas vidas. E nada melhor do que a própria pessoa para contar sobre sua jornada.
Gosto bastante de histórias como essa, mas preciso estar no "momento certo". Vou guardar a dica para um dia ler esse livro.
bjs
Manu, depois que li a resenha fiquei encantada com o livro. Já entrou na minha listinha. Assim que tiver oportunidade vou ler.
ResponderExcluirNão conhecia o livro e gostei muito da resenha. Tenho vontade de ler, mas a minha lista está bem grandinha. Talvez mais para frente eu leia.
ResponderExcluirNão conhecia o livro e somente pela sua resenha pude sentir a densidade do livro! Nao sei se leria o livro, mas é sempre bom ler resenhas ótimas como esss para se formar uma opinião! Obrigada XD
ResponderExcluirManu!
ResponderExcluirLivros contextualizados e filosóficos, que trazem à luz da filosofia pessoal de vida de cada um, que nos faz questionar decisões e posturas, nos exige tanto emocionalmente quanto psicologicamente e torna a leitura densa, porém produtiva.
Apaixonei-me por sua resenha detalhada, explícita ao tempo que banhada por uma ode filosofal.
cheirinhos
Rudy
querida Manuh, esperei por esta resenha com tanta ansiedade que 10 copos de água no deserto fatalmente não me satisfariam, rs. desde quando iniciou sua leitura venho bebendo trechos e mais trechos que você pipoca pela teia virtual. fui me encantando pouco a pouco, com cada frase bem escrita, com cada "miudeza" devastada. agora já sou um fã, sem nunca ter lido tezza, ou melhor, tendo lido através de você.
ResponderExcluirde inúmeras formas ele mexeu comigo, mas a que realmente me fez introspectivo foi minha relação com a docência. fui professor por uns 10 anos, do ensino médio, então o universo adolescente me é caro e as paixões e desejos sempre me assombraram. a alegria e a fúria contidas nessa fase, e mais ainda as incontidas, me faziam repensar muitas vezes minha vida.
se hoje consigo dar valor ao que tenho devo agradecer à minha breve e intensa passagem pela sala de aula. como professor amei e como homem descobri o que realmente é o amor.
não vou dizer que este é um livro desejado, direi que é fundamental. resenha belíssima, de encher os olhos. parabéns!
A história é densa e por eu não me interessar muito por esse tipo de leitura não teria uma fácil compreensão do que acontece com o personagem.
ResponderExcluirMesmo não sendo esse o ponto principal do livro,acho que mesmo aos 70 anos ele devia correr atrás do que perdeu,tentar arrumar as coisas com o filho dele e até quem sabe encontrar um novo amor(Não compreendi se ele ainda está com Therèze) .Não adianta de nada ele ter sido tão bem sucedido,homenageado e não ter nenhuma pessoa em especial para lhe dizer o quanto ele mereceu aquilo.
Gostei da resenha, mas não me interesso por este tipo de livro. Vi que o protagonista acredita que o pai tenha sido responsável pela morte da mãe e o mesmo acontece depois. Heliseu sabe que o filho o culpa pela morte de sua mãe, mas ele não se aproxima do filho. O Professor parece que nunca foi feliz apesar de ter sido bem sucedido na carreira, ter casado e tido um filho, nem mesmo quando se envolveu com Thereze, cujo envolvimento se transformou em culpa. Acho que a leitura seria muito cansativa para mim.
ResponderExcluirA historia e maravilhoso tem ate um pouco de suspense que me deixa maluca um homem que tem a vida super normal de repente mudar rapitamente sem duvidas um historia muito densa que adoria ler
ResponderExcluirmais uma resenha consistente e apaixonante
ResponderExcluirvou ser repetitiva, mas preciso dizer que vc garimpa esses livros!
fiquei bem curiosa, o enredo me atraiu, ir desvendando esses segredps!
http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Olá não me chamou a atenção esse livro ,gosto mesmo é de romances.
ResponderExcluirPelo visto é um livro bem dificil de ser ,então prefiro nem pegar pra ler!
O enredo do livro não me chamou muito a atenção, sem falar que o livro tem poucos diálogos. As vezes pra mim, isso acaba tornando a leitura cansativa. Apesar do livro como um todo parecer-me bem interessante. Sem falar que parece ser um livro daqueles que pra se ler, é bom estar no momento ideal pra isso, quem sabe um dia eu venha a ler né?! Agora não tenho muito interesse.
ResponderExcluirÉ incrível sua capacidade de emocionar com as belíssimas resenhas.
ResponderExcluirEu ando fugindo de leitura densa, mas adoro personagens reais que nos fazem experimentar sentimentos variados.
Bjs
Nossa Manu, você me deixou muito emocionada com a sua resenha, ela ficou tão poética, tão intensa que quando a li fiquei sem saber completamente o que comentar. Depois que terminei de ler sua resenha já acessei o link do skoob que você deixou no fim do post e já marquei o livro como desejado, assim que tiver oportunidade com certeza o lerei, pelo que pude sentir sobre ele com a resenha que você escreveu, a solidão parece quase como uma personagem, a ausência de diálogos em boa parte do livro talvez seja para que o leitor "sinta". Bom esse livro se tornou uma leitura obrigatória para mim, talvez demore um pouco para mim o ler mas com certeza o lerei.
ResponderExcluirMuito, muito obrigada por me dar a honra de conhecer esse livro.
O livro me pareceu ser ótimo! Acho que irei dar-lhe uma chance rsrsrs'
ResponderExcluirOi, Manu
ResponderExcluirAchei super interessante esse livro. Como o começo da sua resenha diz, é preciso ter coragem para contar a própria história. Quero ler esse livro e conhecer um pouco mais da vida de Heliseu.
Ainda não li nada de Tezza mas sua resenha me encantou, Manu! Quando vi o número de páginas confesso que imaginei que não seria algo tão profundo mas aí está a prova de que uma história bem estruturada não precisa de mil páginas para ser contada. E assim é a vida, feita de bons momentos, períodos de provação e deve ser muito interessante acompanhar todos esses relatos.
ResponderExcluirNão conhecia o livro mas depois dessa resenha detalhada eu me interessei bastante!!
ResponderExcluirCostumo tomar para mim livros difíceis de se ler como desafio geralmente são dramáticos mais muito reflexivos!!
Achei a capa do livro de uma delicadeza impar!!
Beijos
Suzii Andrade
Uma coisa eu tenho certeza, depois de ler sua resenha fico feliz por não haver solicitado esse livro. primeiramente por que apesar de suas poucas página a narrativa me deu a impressão de ser muito densa, e não estou em um bom momento para este tipo de história. Logo, acredito que teria abandonado o livro, algo que não costumo fazer. No mais, parabéns pela resenha, já disse que me encanto com a forma como você disserta suas impressões é quase poético ao meu ver ♥ http://blogliterata.blogspot.com.br/
ResponderExcluirOi Manu! É sempre muito bom ler suas resenhas. Você me apresenta a um novo livro que eu ainda não conhecia. E esse foi outra surpresa agradável. Gosto de livros que tem essa pegada mais densa e nos mostram a verdadeira essência de seus personagens. Nos fazem odiá-los e amá-los ao mesmo tempo, mas a cima de tudo não fazem compreender que somos todos humanos e que cometemos erros. Muito boa sua resenha. Espero poder ler O Professor em breve.
ResponderExcluirHei Manu!Confesso que não me interessei muito pelo tema,tendo em vista que achei muito denso e profundo e a figura do professor não me cativou.
ResponderExcluirBjs
Olá Manu!
ResponderExcluirJá tentei li esse livro, para o colégio, mas faz um boooom tempo. Lembro-me de ter detestado o livro. O livro não conseguiu me prender sabe? Eu não era a leitora mais paciente na época.
Não vou dizer que é o gênero que mais me chama atenção, mas como você disse o "Pensador de Miudezas" é muito premiado, não acredito que seja à toa!
Quando tiver um tempinho vou invadir a biblioteca dos meus pais, pegar outra de suas obras para ler. vai que mudo minha opinião ?! :)
um beeijo Lara
http://meusmundosnomundo.blogspot.com.br/
A resenha ficou ótima, mas não me interessei muito por este livro. Ás vezes até leio obras que contam a vida de alguém, mas não gosto muito deste tipo de leitura rs
ResponderExcluirO fato de ser um livro denso e difícil de ler, também me desanima.
beijos
A história desse livro nao me chamou muito a atenção, embora a capa seja muito bonita e talvez um dia eu vá ser professora rsrsrs
ResponderExcluirO melhor de tudo ao entrar neste post é ver que foi escrito pela Manu e é resenha de livro NACIONAL. Uhuuu!!!
ResponderExcluirLeituras deste porte são excelentes para aperfeiçoamos nosso vocabulário, nosso entendimento de mundo (de Brasil).
Gosto de leituras reflexivas sobre a vida de um personagem. Por ele ser professor é mais belo e rico ainda.
Adoreii e já add na minha lista de desejados!!
Bjs
Nossa, ameeeiii!! Esse livro já está com certeza na minha listinha! Me interessei muito pela história, ainda mais por ser relacionada a um professor (minha atual profissão) *-*
ResponderExcluirBeijos
albumdeleitura.blogspot.com.br
Esse vai para minha lista de livros á serem comprados!!
ResponderExcluirO livro com certeza é uma obra excelente, porém, exige que o leitor absorva e se envolva completamente, estou preferindo leituras mais fáceis que tenham como objetivo me distrair, por hora eu passo a leitura, mas para frente quero lê-lo.
ResponderExcluirBeijocas ^^
É inegável a riqueza dessa personagem, mas confesso que livros assim não me agradam. Às vezes me aventuro em leituras densas, mas elas são completamente diferentes dessa. E, apesar de você ter gostado bastante e até indicado, esse eu vou passar, Manu!!!
ResponderExcluir@_Dom_Dom