Ed. Fábrica 231, 2014 - 383 páginas: |
Cultuado autor de quadrinhos e roteiros da Marvel e da DC Comics, entre eles algumas das mais elogiadas histórias de X-Men e O Quarteto Fantástico, o britânico M. R. Carey apresenta uma trama original e emocionante em sua estreia como romancista com A menina que tinha dons, lançamento do selo Fábrica231. Aclamado pela crítica, o livro se tornou um bestseller imediato na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos ao contar a história de Melanie, uma menina superdotada que faz parte de um grupo de crianças portadoras de um vírus que se espalhou pela Terra e que são a única esperança de reverter os efeitos dessa terrível praga sobre a humanidade. Uma comovente história sobre amor, perda e companheirismo encenada num futuro distópico.
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De cara quis este livro, pela capa também, mas mais ainda pelo fato de me deparar com o autor M.R.Carey, roteirista de X-Men e Hellblazer, ambos quadrinhos que fizeram minha infância e adolescência mais felizes.
Quem nunca leu nada sobre os heróis Wolverine, Tempestade, Colossus, ou o anti-heroi, cínico, exorcista e viciado em cigarros John Constantine, está fora do tempo e do espaço. Estão perdendo muito do que melhor se produz hoje em dia em matéria de Graphic Novel, que uma espécie de livro contado através de HQ.
A menina que tinha dons (Fábrica 231, 383 páginas) é um YA com tendências filosóficas. Você pode lê-lo como uma simples aventura ou se enveredar pelo abismo psicológico das personagens. A escolha é sua.
De início impactante, somos jogados em um ambiente claustrofóbico:
- “Agora ela tem 10 anos e a pele de uma princesa de conto de fadas... ela tem uma cela, o corredor, a sala de aula e o chuveiro... A cela é pequena e quadrada. Tem uma cama, uma cadeira e uma mesa. Nas paredes, que são pintadas de cinza, existem quadros... Às vezes o sargento e seu pessoal mudam as crianças, então Melanie sabe que algumas celas têm quadros diferentes.”
Em um mundo pós-apocalíptico um vírus atingiu a grande maioria da população. Atualmente crianças são mantidas presas em uma base. É lá que vive Melanie, uma das prisioneiras. A partir daí M.R.Carey começa a demonstrar a que veio, com parágrafos maravilhosos, cheios de poesia:
- “As coisas saíram dos eixos rapidamente depois disso – a trégua era apenas um artefato do caos, criado por forças poderosas que se anulavam momentaneamente. A infecção ainda disseminava e o capitalismo global ainda se destroçava – como os dois gigantes se devorando na pintura de Dalí intitulada Canibalismo de outono. Nem toda coreografia de relações públicas pôde vencer, no fim, o Armagedom. Ele passou por cima das barricadas e se deleitou.”
Melanie é uma criança diferente, aliás todas o são. Ela adora a escola e principalmente sua professora Helen Justineau, que vive um grande dilema de consciência com relação ao cativeiro das crianças:
- “As coisas vão desmanchar e o centro não aguentará. Esburacado de medos e inseguranças, a turma se desfará em pedaços. Finalmente farão as perguntas que Justineau não pode responder. Ela terá de escolher entre a confissão e a evasiva, e qualquer uma das duas provavelmente a chutará pela beira da curva da catástrofe.”
O desejo de Melanie é ser Pandora (que numa tradução livre quer dizer: a quem possui todos os dons – do titulo original The girl with all the gifts), que na mitologia é possuidora de uma caixa que contém todos os males. Ela também possui dons, mas seriam eles benção ou maldição?
O sargento Parks é quem guarda a base, juntamente com seus soldados. Agressivo e radical, tem no sangue a vida militar e não há remorsos em suas decisões:
“— Pensei que estivesse com frio — diz Parks, surpreso. — Você estava tremendo. Desculpe. Não pretendia nada além disso.
Por um bom tempo ela fica ali olhando para ele, num silêncio mortal.
E então ela fala. E só há uma coisa que pensa em dizer.
Põe pra fora, desabafa, em retrospecto, a bebida, as lembranças, os últimos três anos de sua vida.
— Já matou uma criança?”
Entre o dever e a consciência, o dever fala mais alto. A base serve como laboratório de pesquisa da Dra. Caroline Caldwell que se serve de suas cobaias sem anestesia, sempre sem sair do salto:
“Caroline Caldwell separa cérebros de crânios com muita habilidade... Olhos piscam em convulsões aceleradas, entram e saem de foco numa inútil atividade incansável... A cobaia está morta.”
“... Usava batom todo dia, apesar de sua escassez... representa a melhor frente de batalha para o mundo. Em tempos de ferrugem, ela surge aço inoxidável.”
O enredo é sem firulas, direto, com emoção e aventura de sobra, escrito por um roteirista experimentado. Mas não é um livro simples, muitas vezes a linguagem é complexa e fiquei me perguntando se a experiente tradutora Ryta Vinagre tem algo a ver com isso ou se ela seguiu fielmente o original.
Lembrou-me um pouco “A estrada” de Comarc McCarthy, em que pai e filho caminham para chegar a lugar algum, sem esperanças. Virou filme de sucesso e este provavelmente também se tornará um.
É um livro sobre desejo, solidão e principalmente “carência”. Há inúmeras questões filosóficas e psicológicas envolvidas, as quais tornam o livro, no mínimo, curioso, e no máximo, saboroso. O que acontece quando damos a uma criança o poder absoluto sobre a vida e a morte? Estudiosos afirmam que é na infância que se aprende a ser adulto. Mas e se não existirem modelos em quem se espelhar? Acredito que uma criança, ainda imatura, irá agir a seu bel prazer, destruindo tudo e todos como se esmaga uma formiga. Claro que isso é um tabu e já vimos muito disso na literatura, basta lembrarmo-nos das crianças-vampiros de Anne Rice.
Enfim, é um livro que me comoveu, principalmente pela construção da personalidade de suas personagens:
“Quando a última lanterna se apaga, a escuridão cai sobre eles como um peso. Justineau fica acordada, olhando-a.
Parece que Deus nunca deu a mínima”.
Cada um carrega seus segredos, que vão sendo revelados quando se sentem acuados e precisam dividi-lo. E é de bom tom que assim o façam, porque a relutância em expô-los pode muito bem custar a vida de cada um deles.
Cortesia da Editora Rocco |
Ciumento por natureza, descobri-me por amor aos livros, então os tenho em alta conta. Revelam aquilo que está soterrado em meu subconsciente e por isso o escorpiano em mim vive em constante penitência, sem jamais se dar por vencido. Culpa dos livros! |
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E sem Dúvidas nenhuma esse livro deve ser Muito Ual emocionante ,O Modo como a capa transmite já deixa o leitor curioso para ler Bom eu gostei não tive a oportunidade de ler mas com certeza algum dia vou ler.
ResponderExcluirNão costumo ler livros assim, mas a proposta desse é bacana. Aliás, esse aprofundamento nas personalidades dos personagens é algo muito positivo, assim como a questão dos sentimentos e atitudes. Um livro interessante e que faz pensar.
ResponderExcluirobs: Só essa linguagem mais complicada é que me desanimou um pouco, confesso.
bjs
Tá de sacanagem comigo né?!!
ResponderExcluirEu já estava com vontade de ler este livro, agora eu tô precisando dele!!!
Adorei a resenha. Quero ler o livro, quero ver o filme, quero tudo!!!!
Amei a proposta, amei a personagem, tudo!!!
Bjks
Lelê - http://topensandoemler.blogspot.com.br/
Sério?
ResponderExcluirEu não estava dando muita coisa pelo livro e confesso que nem ia ler a resenha. Mas acabei lendo e agora quero o livro para ontem. Principalmente pelas tendências filosóficas que você diz ter. Gosto de livros que são aventuras mas que fazem pensar...
Beijinhos,
Lica
Amores e Livros
Esse livro parece ser realmente maravilhoso e envolvente. Irei ler com certeza.
ResponderExcluirOuvi muitos elogios sobre o livro, mas não tive oportunidade de ler. Porém lendo a resenha fiquei curiosa em relação a ele. Talvez eu leia futuramente.
ResponderExcluirRodolfo!
ResponderExcluirLivros nesse estilo são maravilhosos principalmente pelo aspecto psicológico, simplesmente adoro!
E ver mais uma resenha sua tão bem elaborada e explicitada, é fabuloso.
Obrigada!
Boa semana!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Rodolfo, não pude deixar de rir porque estou classificada como "fora do tempo e do espaço". Nunca li gibis de heróis, os meus eram Mônica e sua turma, Luluzinha e pouco Tio Patinhas. Este livro me interessou tanto pela bela capa como pelo título - tb sou fã de belos e bem sacados títulos. Só declinei por ser uma distopia...
ResponderExcluirAinda assim sua resenha me emocionou, a situação de Melanie, o horror da frieza da cientista, a dor da solidão e a carência dessas crianças. .. estou de coração partido. E muito curiosa para saber como se dará o desfecho dessa história.
A-d-o-r-e-i! Acho que vou ler minha primeira distopia. Bj
Gente o livro parece ser ótimo, estou curiosa para ler ele, amei saber que é do roteirista de wolverine e entre outros que eu adoro, eu amo filmes, desenhos, tudo que tem super herói hehehe, amei a resenha e pretendo sim ler ao livro.
ResponderExcluirBeijos *-*
Muito boa a sua resenha! Eu amo x-man!
ResponderExcluirNão sabia que esse livro era sobre esse tipo de dom, rs. Sempre vi nas promoções e deixei de lado, agora vou ter q anotar aqui. rs
Olá Rodolfo!
ResponderExcluirNão sabia que esse autor era roteirista das histórias do Wolverine e Constantine.
Rodolfo também é cultura ehehhe,sempre nos abrindo os olhos à coisas novas!
Confeso que eu não curto muito livros com histórias futuristicas,visto que grande parte de livros assim tem os temíveis três ou quatro livros que você sabe:eu odeio ehheheh.
Mas com essa sua resenha eu fiquei curioso.Principalmente por você ter falado que é um livro sobre carência e solidão.Sou super hiper carente e solitário kkkkk..claro que vou adicionar a minha pequena listinha.Será que acho em ebook na web?
Grande abraço!
Olá Rodolfo! Que livro interessante! Parece bem profundo também. Gosto de livros que tenham abordagens psicologicas, me emocionam e me deixam pensativa por dias rs. Adorei sua resenha, despertou minha curiosidade pela historia alem de ter aprendido mais um pouco com vc... isso que torna suas resenhas memoraveis pois além de falar sobre o livro, você sempre nos ensina um pouco mais seja de filosofia, historia, psicologia e cultura! Parabéns, livro mais que adicionado na estante!
ResponderExcluirAdorei a resenha! Me deixou com muita vontade de ler o livro. Parece muito interessante e gosto de livros que nos fazem parar para refletir.
ResponderExcluirNão sou uma grande fã de distopias, na verdade li apenas dois livros do gênero. Mesmo assim fiquei interessada em A Menina que Tinha Dons depois de sua resenha. Parece ser um ótimo YA.
ResponderExcluirParabéns pela resenha.
Beijo
http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/
Já li esse livro, a história me envolveu e eu não conseguia desgrudar os olhos das páginas.
ResponderExcluirNunca li as HQ's dos "X-Men", mas acompanhei o desenho. Aliás, até hoje ainda dou uma conferida em alguns episódios. Mesmo sem saber que o autor era roteirista da HQ, já tinha feito essa ligação entre as tramas. De início, diria que iria ler esse livro com os olhos voltados para a aventura. Depois de ler essa resenha, vi que posso extrair muito mais do que algumas horinhas de diversão. Acho um máximo quando os autores conseguem unir aventura, ação e reflexão. Espero ler muito em breve.
ResponderExcluir@_Dom_Dom
Não sou leitora de HQ's mas vi todos os desenhos, conta? rs
ResponderExcluirO livro parece ser ótimo, só da menina ter poderes já chama a atenção.
Oi, Rodolfo.
ResponderExcluirEu estou então fora do tempo e do espaço. ;) Mas fazer o que né!?
Esse livro já tinha chamado a minha atenção quando foi lançado, mas depois não vi falar muito e acabei nem comprando e agora me deparo com a resenha do mesmo. Fiquei curiosa quando ao desejo de Melanie e querendo saber quais dons ela possui. Tentarei ler depois.
Até mais.
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Oie
ResponderExcluirAcho que estou meio fora do tempo e do espaço... Nunca fiz mais que folhear alguns quadrinhos, apesar de gostar dos filmes, mas esse livro me interessou bastante, tanto pela narrativa, quanto pela história e os temas que trata. Como gosto de distopias tenho ainda mais um motivo para ler.
Bjs
Gosto muito de livros que podem ser explorados pelo lado psicológico. Não fazia ideia de que o autor é o roteirista de x-men! Nunca li as HQs, mas sempre gostei de acompanhar os desenhos. rs
ResponderExcluirOs personagens parecem ter sido muito bem construídos, assim como toda a história. Parece ser o tipo que fisga o leitor da primeira até a última página. Fiquei curiosa para conferir!
Eu não entendi muito bem... porque as crianças são mantidas presas?
ResponderExcluirElas tem dons, dons estes que são a única arma para livrar a humanidade de sua ruína total que foi causada por um vírus... é isso?
Eu gostei muito da sinopse e me fez lembrar "eu sou a lenda" que eu gosto tanto! E o fato do autor ser quem é chama mais atenção ao livro, com certeza!
Sou fã de super-heróis, então tudo que tem essa temática de poderes, etc... me agrada.
ResponderExcluirEste parece ser um livro bem diferente, cheio de mistérios e personagens bem construídos.
Parece uma história bem envolvente =D
Olá, tudo bem? Cara, eu nunca tinha lido nenhuma resenha desse livro, porém quando vi a capa não pensei que era um enredo assim. Nunca. Mas gostei bastante, fiquei bem curiosa. Principalmente pra conhecer os personagens e seus segredos.
ResponderExcluirBeijos
Gosto de livros assim que nos fazem refletir. Fiquei curiosa para saber se este dom da Melanie é uma benção ou maldição. Com certeza estará em minha lista de próximas leituras.
ResponderExcluirO modo como tudo acontece neste livro me deixou em estado de choque. Eu não imaginava uma carga emocional tão grande em uma capa tão simples, mas bem representativa. Certamente é uma obra para quem consegue refletir, ter prazer pela leitura e, claramente, para quem têm estômago sob tais assuntos.
ResponderExcluirA Menina Que Tinha Dons me surpreendeu, cheio de segredos e perturbações focadas em apenas uma criança. O livro é cheio de questionamentos que não consigo imaginar minimamente as respostas. Uma carga emocional gigantesca preste a explodir sobre a vida e a morte, o poder de decisão e a influência de uma criança.
ResponderExcluirOi, Rodolfo. A Menina Que Tinha Dons estava em minha lista há muito, mas com a notícia sobre o autor ser roteirista do X-Men me animou ainda mais para a leitura. Esta obra e cheia de reflexões e dificuldades pessoais que cada um pode enfrentar. As frases colocadas no inicio como um ambiente claustrofóbico me deixaram atônico. Quero muito ler.
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