Engenharia Reversa
Parte XXVI - Sangue nas Sombras
O antigo automóvel parou ao lado do abrigo. Bel ficou abismada ao ver a máquina, acostumada aos flymobs, precisou recorrer aos registros históricos para entender seu funcionamento. O veículo, entretanto, tinha sofrido adaptações, e foi guiado até ali remotamente por Samuel.
Na rua, junto a ela, o transumano parece meditar. Maestro e o piloto ainda estão dentro do abrigo, discutindo detalhes. Então Zynor abre seus grandes olhos vermelhos, expelindo ar prolongadamente.
- Estamos seguros. - Diz o transumano.
- Sim, eu inutilizei todos os drones. - Responde Bel.
- Você é uma biohacker?
Bel olha rapidamente para baixo, então encara o rapaz e abre um sorriso.
- É claro que eu sou! Para ser sincera, sou uma das melhores biohackers na cidade.
Agora é Zynor quem sorri.
- Imagino. Deve ser complicado invadir um drone em pleno vôo. - Ele mantém o sorriso por alguns segundos - Mas eu não me referia às máquinas malditas, e sim à pessoas, que poderiam estar nos observando, certamente frequentadores do Mephisto que sabem quem são vocês e nos seguiram.
Bel cruza os braços.
- E como você sabe que não estamos sendo observados?
- Eu posso sentir.
- Aprimoramentos genéticos só afetam características físicas. - Afirma Bel, desafiadora.
- Físicas e psíquicas! - Corrige Zynor.
- Impossível! Só as GC’s tem pesquisas nesse campo, e mesmo assim estão longe de serem operacionais.
Zynor fica em silêncio por alguns segundos, fitando o rosto de Bel.
- No início éramos um grupo, um movimento de inconformados sociais. Mas hoje somos um povo, um povo banido. Criamos uma sociedade que vive à margem do que você conhece como sociedade. E nesses anos todos acumulamos conhecimento, temos nosso própria ciência, e, com o tempo, desenvolvemos certas habilidades, e dentre elas temos algo semelhante ao que os humanos chamam de sexto-sentido…
“Os humanos? Interessante eles pensarem assim.” - atenta Bel.
- Entendi. Pesquisei sobre vocês na Hypernet, não tem muita coisa, vocês realmente fizeram um bom trabalho ficando ocultos, e é incrível terem conseguido tanto mesmo sem fontes de renda, sem capital.
- Capital? Não precisamos disso, temos uns aos outros dentro de nossa comunidade! - Diz Zynor, entusiasmado.
Os dois ficam em silêncio, se estudam, ponderam. Então o transumano volta a falar:
- Mas e você?
Ela estranha a pergunta.
- O que tem eu?
- Eu não consigo sentir sua presença. Definitivamente, você não é humana. Entretanto, tudo em você é imperfeito como um ser humano, imperfeito até demais! Não consigo entender...
Subitamente, o semblante de Zynor muda de um ar calmo e professoral para uma fisionomia preocupada. Ele se vira de costas para Bel, saca uma pistola e busca por proteção ao lado do antigo automóvel.
- Cuidado! Abaixe-se! Tem alguém se aproximando!
Bel obedece, se protegendo atrás do carro, então começa a vasculhar a área buscando por assinaturas biodigitais, em segundos encontra o que procura.
- Zynor, tá tudo bem, são meus... amigos!? - Ela se surpreende em dizer aquilo.
O transumano olha dentro dos olhos de Bel, desconfiado, então guarda a pistola.
- Você é bem rápida, devo admitir.
Ela devolve um sorriso amarelo.
- Bel! - Grita Marcela, atraindo o olhar dos dois.
Marcela e Thiago correm na direção de Bel, a loira a abraça, já Davi, um pouco mais atrás, estranha a presença do rapaz ao lado de sua ex-namorada.
- O que você e Maestro foram fazer naquela boate? - Pergunta Davi.
- Ah, foi uma missão! Na verdade, minha primeira missão de campo! Fomos encontrar um…
- Oi, Bel. - Diz Davi, entrando no meio da conversa.
A morena olha feio para rapaz, ignorando-o.
- Como eu estava dizendo, Thiago, fomos atrás de um piloto. O cara que vai tirar a gente de Vix!
- Piloto? Caramba! Então vamos por terra! Cara, vai ser muito perigoso. - Diz Marcela.
- Não precisam se preocupar! - intervém Zynor, os olhos brilhando - Já fizemos centenas de viagens pelas Terras Ermas, conhecemos as melhores rotas e o Lobo do Deserto…
- E quem, ou melhor, o quê é você? - Interrompe Davi, fuzilando o transumano com os olhos.
Zynor fica sério e se volta para o biohacker.
- Eu sou o copiloto, e vou ajudar a salvar esse seu rabo magricela das garras da polícia.
Davi fica sem reação, Thiago e Marcela começam a rir. Então o biohacker parte para cima do transumano, no entanto, atento, Thiago se coloca entre os dois.
- Calma, cara! Pega leve!
- É! Foi só uma brincadeira, Davi, e vamos concordar, você bem que mereceu! - Diz Marcela.
- Uma porra de um transumano! E vocês vão confiar nessa aberração para nos levar para o Brasil? - Vocifera Davi.
- Ou confiam nele, ou podem voltar par o buraco quente de onde saíram! - Diz Samuel, caminhando ao lado de Maestro e se aproximando do grupo.
- É exatamente isso, Davi. Acho que você quer receber a sua parte do trabalho, certo? - Inquere Maestro.
Davi dá de ombros, então o grupo se aproxima de Maestro, feliz em vê-lo.
- Olá, pessoal, eu sou Samuel, piloto do Lobo do Deserto. Acho que já conhecem meu sócio e copiloto, Zynor. Não se assustem com esses olhos vermelhos, esse cara aí tem um coração de ouro! Além de ser um navegador excepcional!
Thiago e Marcela cumprimentam Zynor, enquanto Davi apenas abre um sorriso sarcástico.
- Bora, entrem no carro. Acho que com um pouco de jeito vai caber todo mundo. - Diz Samuel, abrindo através de seu CND todas as quatro portas do veículo.
- Nossa, que lata velha! Espero que esse não seja o tal do Lobo do Deserto! - Zomba Davi.
Então, subitamente, Zynor se detêm, assumindo um semblante sério.
- Esperem. Tem alguma coisa errada. - Diz o transumano.
- O que foi, chapa? - pergunta Samuel, atraindo o olhar preocupado de Maestro.
- É como se alguém nos observasse, mas a presença dele vai e vem, como se um campo de energia o estivesse ocultando.
- Bel, você captou alguma coisa? - Pergunta Maestro, em alto tom.
Todos estancam, olhando para os lados com preocupação.
- Samuel, você tem alguma arma aí dentro? - Pergunta Thiago.
Bel finalmente responde.
- Maestro... Pessoal, tem alguém se aproximando, ali, ali! - Ela aponta para a entrada do beco, no meio de rua.
- Mas não tem nada lá, Bel! - Respondem quase em uníssono Maestro, Davi e Thiago.
- Merda! - Samuel coloca parte do corpo para dentro do carro, de onde tira dois fuzis e uma submetralhadora, joga um fuzil para Maestro e então exibe a submetralhadora.
- Quem sabe usar isso aqui?
- Deixa comigo! - Responde Thiago.
Maestro joga sua pistola para Davi.
- Protejam-se, vão para trás do carro! - Grita Samuel.
- Yagami, fique atrás de mim! - Grita Maestro.
Samuel, Thiago e Maestro apontam suas armas para a posição que Bel indicou, enquanto Davi fica ao lado dela com a pistola em punho, Zynor assume posição ao lado de Samuel.
Do nada, um flash luminoso assusta as sombras e um raio vermelho acerta o ombro do piloto. Ele é projetado para trás e seu corpo acerta o capô do automóvel.
- Samuel! - Grita desesperado Zynor.
Maestro e Thiago abrem fogo na direção do lugar de onde o raio partiu, e assistem, abismados, as balas recochetearem em pleno ar.
- Gerador de invisibilidade! - Apregoa Maestroi.
Então uma forma começa a se revelar na frente dos disparos, uma armadura branca, de contornos femininos, onde um elmo de centurião romano protege um rosto de metal.
- É a Fúria! - Vocifera Davi, tremendo.
- Concentrem o fogo no peito da armadura! - Ordena o deletador.
Todas as armas disparam sem parar contra um ponto central no peito da Gladium VI, a armadura da Fúria, e Dianna apenas faz uma negativa com a cabeça, então ergue um dos braços e o aponta para o grupo, disparando um novo raio vermelho através de um dispositivo fixado acima do punho.
Thiago é atingindo e seu corpo é projetado para trás, chocando-se contra o asfalto. Ele sente seus ossos estalando e uma corrente elétrica o percorre dos pés a cabeça, produzindo uma dor horrível. Ele desmaia. Marcela grita e vai até ele, segurando a cabeça do hacker, tentando sentir sua pulsação
- Ele está vivo! - Grita a engenheira.
Então a Fúria empreende uma corrida na direção do grupo, as balas recocheteando em sua armadura branca a fazem brilhar na noite. Nos céus, centenas de drones começam a se aproximar. Bel se esforça para desativar todos eles.
Vendo a inutilidade do ataque, Zynor larga a pistola, já sem balas, e corre de encontro à Fúria. Bel vê, incrédula, as mãos do transumano se transformarem, com cada dedo se convertendo em afiadas e pontiagudas garras negras, enquanto seus braços e tronco tornam-se mais musculosos e suas pernas mais rápidas.
Maestro muda de posição, para não acertar o transumano, então passa a disparar contra as juntas na perna da Gladium VI; Davi, sem balas no pente, procura pela submetralhadora.
Zynor se choca violentamente contra Dianna, ele crava seus dentes, agora transmutados e semelhantes aos dentes de um tubarão, no pescoço da armadura. Ao mesmo tempo, projeta seu braço direito contra a barriga da Fúria, tentando perfurar a Gladium.
Dianna acerta um soco nas costelas de Zynor, a potência do golpe arrebenta os ossos e o transumano solta um grito pavoroso, largando o pescoço da caçadora. Então a Fúria o pega pela virilha colocando o homem de ponta cabeça, para então jogá-lo violentamente contra o asfalto. Ela flexiona o braço direito, e então, caindo sobre o corpo do transumano, acerta o meio do peito do homem com um soco descomunal.
O aço arrebenta a caixa torácica, comprimindo os órgãos internos, destruindo de uma só vez os pulmões e o coração de Zynor, que por afim agoniza enquanto vê os olhos metálicos de Dianna o observando morrer. O sangue escorre pelo asfalto, descendo para os bueiros nas laterais da ruela.
Davi, Maestro, Marcela e Bel não acreditam no que veem. Maestro lamenta não ter em mãos sua pistola EPM, única arma que conseguiria neutralizar aquela armadura.
A Fúria encara o grupo.
- Eu quero a engenheira, e somente ela. Não tenho nada contra vocês. Não me obriguem a matá-los.
- Ela está comigo. E não vai a lugar nenhum! - Responde Maestro, firme.
- Não. - Intervêm Marcela - Não quero que ninguém mais morra por minha causa, eu vou com ela.
- Você não pode, Marcela! Quem contratou ela certamente quer ver você morta! - Diz enfaticamente Bel.
- Chega de conversa! - Grita a caçadora.
A Fúria avança na direção de Marcela, Maestro se lança contra ela, girando o fuzil no ar e atingindo a cabeça da Gladium VI com o cabo da arma, que se parte em vários pedaços. Dianna acerta um violento chute contra o abdômen de Maestro, o lançando contra a calçada. Agora eles podem ouvir claramente os motores das engrenagens da armadura enquanto ela se aproxima de Marcela.
Encostado no carro, Davi apenas observa, paralisado e tremendo, larga a submetralhadora. Bel se coloca entre Dianna e Marcela, encarando a caçadora.
- Não! Você não vai tirar ela da gente!
- Saia da minha frente, menina!
Dianna acerta um cruzado no rosto de Bel, que com a força do golpe é jogada para o chão, caindo de bruços próxima do corpo de Thiago. Marcela, ajoelhada ao lado dele, se lembra da tensão que passou na Zona de Exclusão, quando viu a Fúria capturar seu namorado, Jorge. Ela estanca de medo e começa a chorar.
- Acabou, Marcela. Você vai se encontrar com seu parceiro.
Então, um brilho azul chama a atenção de Davi, que vê, desnorteado, a luminescência nascendo nas costas de Bel. A biocomputador se apoia nos dois braços, sangue escorre de sua boca, pingando no asfalto. Ela olha para Dianna.
- Você. Não. Vai. Levá-la! - Vocifera Bel, os olhos brilhando. Centenas de drones começam a cair do céu e as parcas luzes que mal conseguem iluminar o beco se apagam.
- O quê? - Diz Dianna, assustada quando mensagens de alerta piscam em sua retina. Os sistemas da Gladium começam a entrar em colapso, mais e mais mensagens de alerta pipocam no display.
- O que você fez! Como conseguiu hackear minha armadura! Isso é impossível!
A Fúria ergue o braço, mirando o laser na direção de Bel; o coloca em potência máxima, potência letal.
- Você vai morrer, sua desgraçada! - Grita Dianna, em cólera.
Com dificuldade, ela mantém o braço erguido e carrega a arma, pronta para disparar. Bel entra mais a fundo nos sistemas da armadura, o custo de energia é imenso e ela quase não consegue se manter consciente, mas percebe que se Dianna atirar, será o seu fim. Então acessa o gerador da armadura, sobrecarregando-o.
Bel apaga, não consegue mais se apoiar e bate forte com a cabeça no chão, mas sua coluna ainda brilha.
Um grito horrendo ecoa pelos alto-falantes da Gladium VI quando um pico de energia invade o CND de Dianna, torrando seu cérebro. A armadura branca desmorona. Por pequenos orifícios no elmo, um líquido grosso composto de sangue e massa encefálica escorre, vertendo para os bueiros nas laterais do asfalto.
Davi e Marcela observam abismados a luminescência azul se apagar vagarosamente nas costas de Bel.
https://www.facebook.com/engenhariareversalivroNa rua, junto a ela, o transumano parece meditar. Maestro e o piloto ainda estão dentro do abrigo, discutindo detalhes. Então Zynor abre seus grandes olhos vermelhos, expelindo ar prolongadamente.
- Estamos seguros. - Diz o transumano.
- Sim, eu inutilizei todos os drones. - Responde Bel.
- Você é uma biohacker?
Bel olha rapidamente para baixo, então encara o rapaz e abre um sorriso.
- É claro que eu sou! Para ser sincera, sou uma das melhores biohackers na cidade.
Agora é Zynor quem sorri.
- Imagino. Deve ser complicado invadir um drone em pleno vôo. - Ele mantém o sorriso por alguns segundos - Mas eu não me referia às máquinas malditas, e sim à pessoas, que poderiam estar nos observando, certamente frequentadores do Mephisto que sabem quem são vocês e nos seguiram.
Bel cruza os braços.
- E como você sabe que não estamos sendo observados?
- Eu posso sentir.
- Aprimoramentos genéticos só afetam características físicas. - Afirma Bel, desafiadora.
- Físicas e psíquicas! - Corrige Zynor.
- Impossível! Só as GC’s tem pesquisas nesse campo, e mesmo assim estão longe de serem operacionais.
Zynor fica em silêncio por alguns segundos, fitando o rosto de Bel.
- No início éramos um grupo, um movimento de inconformados sociais. Mas hoje somos um povo, um povo banido. Criamos uma sociedade que vive à margem do que você conhece como sociedade. E nesses anos todos acumulamos conhecimento, temos nosso própria ciência, e, com o tempo, desenvolvemos certas habilidades, e dentre elas temos algo semelhante ao que os humanos chamam de sexto-sentido…
“Os humanos? Interessante eles pensarem assim.” - atenta Bel.
- Entendi. Pesquisei sobre vocês na Hypernet, não tem muita coisa, vocês realmente fizeram um bom trabalho ficando ocultos, e é incrível terem conseguido tanto mesmo sem fontes de renda, sem capital.
- Capital? Não precisamos disso, temos uns aos outros dentro de nossa comunidade! - Diz Zynor, entusiasmado.
Os dois ficam em silêncio, se estudam, ponderam. Então o transumano volta a falar:
- Mas e você?
Ela estranha a pergunta.
- O que tem eu?
- Eu não consigo sentir sua presença. Definitivamente, você não é humana. Entretanto, tudo em você é imperfeito como um ser humano, imperfeito até demais! Não consigo entender...
Subitamente, o semblante de Zynor muda de um ar calmo e professoral para uma fisionomia preocupada. Ele se vira de costas para Bel, saca uma pistola e busca por proteção ao lado do antigo automóvel.
- Cuidado! Abaixe-se! Tem alguém se aproximando!
Bel obedece, se protegendo atrás do carro, então começa a vasculhar a área buscando por assinaturas biodigitais, em segundos encontra o que procura.
- Zynor, tá tudo bem, são meus... amigos!? - Ela se surpreende em dizer aquilo.
O transumano olha dentro dos olhos de Bel, desconfiado, então guarda a pistola.
- Você é bem rápida, devo admitir.
Ela devolve um sorriso amarelo.
- Bel! - Grita Marcela, atraindo o olhar dos dois.
Marcela e Thiago correm na direção de Bel, a loira a abraça, já Davi, um pouco mais atrás, estranha a presença do rapaz ao lado de sua ex-namorada.
- O que você e Maestro foram fazer naquela boate? - Pergunta Davi.
- Ah, foi uma missão! Na verdade, minha primeira missão de campo! Fomos encontrar um…
- Oi, Bel. - Diz Davi, entrando no meio da conversa.
A morena olha feio para rapaz, ignorando-o.
- Como eu estava dizendo, Thiago, fomos atrás de um piloto. O cara que vai tirar a gente de Vix!
- Piloto? Caramba! Então vamos por terra! Cara, vai ser muito perigoso. - Diz Marcela.
- Não precisam se preocupar! - intervém Zynor, os olhos brilhando - Já fizemos centenas de viagens pelas Terras Ermas, conhecemos as melhores rotas e o Lobo do Deserto…
- E quem, ou melhor, o quê é você? - Interrompe Davi, fuzilando o transumano com os olhos.
Zynor fica sério e se volta para o biohacker.
- Eu sou o copiloto, e vou ajudar a salvar esse seu rabo magricela das garras da polícia.
Davi fica sem reação, Thiago e Marcela começam a rir. Então o biohacker parte para cima do transumano, no entanto, atento, Thiago se coloca entre os dois.
- Calma, cara! Pega leve!
- É! Foi só uma brincadeira, Davi, e vamos concordar, você bem que mereceu! - Diz Marcela.
- Uma porra de um transumano! E vocês vão confiar nessa aberração para nos levar para o Brasil? - Vocifera Davi.
- Ou confiam nele, ou podem voltar par o buraco quente de onde saíram! - Diz Samuel, caminhando ao lado de Maestro e se aproximando do grupo.
- É exatamente isso, Davi. Acho que você quer receber a sua parte do trabalho, certo? - Inquere Maestro.
Davi dá de ombros, então o grupo se aproxima de Maestro, feliz em vê-lo.
- Olá, pessoal, eu sou Samuel, piloto do Lobo do Deserto. Acho que já conhecem meu sócio e copiloto, Zynor. Não se assustem com esses olhos vermelhos, esse cara aí tem um coração de ouro! Além de ser um navegador excepcional!
Thiago e Marcela cumprimentam Zynor, enquanto Davi apenas abre um sorriso sarcástico.
- Bora, entrem no carro. Acho que com um pouco de jeito vai caber todo mundo. - Diz Samuel, abrindo através de seu CND todas as quatro portas do veículo.
- Nossa, que lata velha! Espero que esse não seja o tal do Lobo do Deserto! - Zomba Davi.
Então, subitamente, Zynor se detêm, assumindo um semblante sério.
- Esperem. Tem alguma coisa errada. - Diz o transumano.
- O que foi, chapa? - pergunta Samuel, atraindo o olhar preocupado de Maestro.
- É como se alguém nos observasse, mas a presença dele vai e vem, como se um campo de energia o estivesse ocultando.
- Bel, você captou alguma coisa? - Pergunta Maestro, em alto tom.
Todos estancam, olhando para os lados com preocupação.
- Samuel, você tem alguma arma aí dentro? - Pergunta Thiago.
Bel finalmente responde.
- Maestro... Pessoal, tem alguém se aproximando, ali, ali! - Ela aponta para a entrada do beco, no meio de rua.
- Mas não tem nada lá, Bel! - Respondem quase em uníssono Maestro, Davi e Thiago.
- Merda! - Samuel coloca parte do corpo para dentro do carro, de onde tira dois fuzis e uma submetralhadora, joga um fuzil para Maestro e então exibe a submetralhadora.
- Quem sabe usar isso aqui?
- Deixa comigo! - Responde Thiago.
Maestro joga sua pistola para Davi.
- Protejam-se, vão para trás do carro! - Grita Samuel.
- Yagami, fique atrás de mim! - Grita Maestro.
Samuel, Thiago e Maestro apontam suas armas para a posição que Bel indicou, enquanto Davi fica ao lado dela com a pistola em punho, Zynor assume posição ao lado de Samuel.
Do nada, um flash luminoso assusta as sombras e um raio vermelho acerta o ombro do piloto. Ele é projetado para trás e seu corpo acerta o capô do automóvel.
- Samuel! - Grita desesperado Zynor.
Maestro e Thiago abrem fogo na direção do lugar de onde o raio partiu, e assistem, abismados, as balas recochetearem em pleno ar.
- Gerador de invisibilidade! - Apregoa Maestroi.
Então uma forma começa a se revelar na frente dos disparos, uma armadura branca, de contornos femininos, onde um elmo de centurião romano protege um rosto de metal.
- É a Fúria! - Vocifera Davi, tremendo.
- Concentrem o fogo no peito da armadura! - Ordena o deletador.
Todas as armas disparam sem parar contra um ponto central no peito da Gladium VI, a armadura da Fúria, e Dianna apenas faz uma negativa com a cabeça, então ergue um dos braços e o aponta para o grupo, disparando um novo raio vermelho através de um dispositivo fixado acima do punho.
Thiago é atingindo e seu corpo é projetado para trás, chocando-se contra o asfalto. Ele sente seus ossos estalando e uma corrente elétrica o percorre dos pés a cabeça, produzindo uma dor horrível. Ele desmaia. Marcela grita e vai até ele, segurando a cabeça do hacker, tentando sentir sua pulsação
- Ele está vivo! - Grita a engenheira.
Então a Fúria empreende uma corrida na direção do grupo, as balas recocheteando em sua armadura branca a fazem brilhar na noite. Nos céus, centenas de drones começam a se aproximar. Bel se esforça para desativar todos eles.
Vendo a inutilidade do ataque, Zynor larga a pistola, já sem balas, e corre de encontro à Fúria. Bel vê, incrédula, as mãos do transumano se transformarem, com cada dedo se convertendo em afiadas e pontiagudas garras negras, enquanto seus braços e tronco tornam-se mais musculosos e suas pernas mais rápidas.
Maestro muda de posição, para não acertar o transumano, então passa a disparar contra as juntas na perna da Gladium VI; Davi, sem balas no pente, procura pela submetralhadora.
Zynor se choca violentamente contra Dianna, ele crava seus dentes, agora transmutados e semelhantes aos dentes de um tubarão, no pescoço da armadura. Ao mesmo tempo, projeta seu braço direito contra a barriga da Fúria, tentando perfurar a Gladium.
Dianna acerta um soco nas costelas de Zynor, a potência do golpe arrebenta os ossos e o transumano solta um grito pavoroso, largando o pescoço da caçadora. Então a Fúria o pega pela virilha colocando o homem de ponta cabeça, para então jogá-lo violentamente contra o asfalto. Ela flexiona o braço direito, e então, caindo sobre o corpo do transumano, acerta o meio do peito do homem com um soco descomunal.
O aço arrebenta a caixa torácica, comprimindo os órgãos internos, destruindo de uma só vez os pulmões e o coração de Zynor, que por afim agoniza enquanto vê os olhos metálicos de Dianna o observando morrer. O sangue escorre pelo asfalto, descendo para os bueiros nas laterais da ruela.
Davi, Maestro, Marcela e Bel não acreditam no que veem. Maestro lamenta não ter em mãos sua pistola EPM, única arma que conseguiria neutralizar aquela armadura.
A Fúria encara o grupo.
- Eu quero a engenheira, e somente ela. Não tenho nada contra vocês. Não me obriguem a matá-los.
- Ela está comigo. E não vai a lugar nenhum! - Responde Maestro, firme.
- Não. - Intervêm Marcela - Não quero que ninguém mais morra por minha causa, eu vou com ela.
- Você não pode, Marcela! Quem contratou ela certamente quer ver você morta! - Diz enfaticamente Bel.
- Chega de conversa! - Grita a caçadora.
A Fúria avança na direção de Marcela, Maestro se lança contra ela, girando o fuzil no ar e atingindo a cabeça da Gladium VI com o cabo da arma, que se parte em vários pedaços. Dianna acerta um violento chute contra o abdômen de Maestro, o lançando contra a calçada. Agora eles podem ouvir claramente os motores das engrenagens da armadura enquanto ela se aproxima de Marcela.
Encostado no carro, Davi apenas observa, paralisado e tremendo, larga a submetralhadora. Bel se coloca entre Dianna e Marcela, encarando a caçadora.
- Não! Você não vai tirar ela da gente!
- Saia da minha frente, menina!
Dianna acerta um cruzado no rosto de Bel, que com a força do golpe é jogada para o chão, caindo de bruços próxima do corpo de Thiago. Marcela, ajoelhada ao lado dele, se lembra da tensão que passou na Zona de Exclusão, quando viu a Fúria capturar seu namorado, Jorge. Ela estanca de medo e começa a chorar.
- Acabou, Marcela. Você vai se encontrar com seu parceiro.
Então, um brilho azul chama a atenção de Davi, que vê, desnorteado, a luminescência nascendo nas costas de Bel. A biocomputador se apoia nos dois braços, sangue escorre de sua boca, pingando no asfalto. Ela olha para Dianna.
- Você. Não. Vai. Levá-la! - Vocifera Bel, os olhos brilhando. Centenas de drones começam a cair do céu e as parcas luzes que mal conseguem iluminar o beco se apagam.
- O quê? - Diz Dianna, assustada quando mensagens de alerta piscam em sua retina. Os sistemas da Gladium começam a entrar em colapso, mais e mais mensagens de alerta pipocam no display.
- O que você fez! Como conseguiu hackear minha armadura! Isso é impossível!
A Fúria ergue o braço, mirando o laser na direção de Bel; o coloca em potência máxima, potência letal.
- Você vai morrer, sua desgraçada! - Grita Dianna, em cólera.
Com dificuldade, ela mantém o braço erguido e carrega a arma, pronta para disparar. Bel entra mais a fundo nos sistemas da armadura, o custo de energia é imenso e ela quase não consegue se manter consciente, mas percebe que se Dianna atirar, será o seu fim. Então acessa o gerador da armadura, sobrecarregando-o.
Bel apaga, não consegue mais se apoiar e bate forte com a cabeça no chão, mas sua coluna ainda brilha.
Um grito horrendo ecoa pelos alto-falantes da Gladium VI quando um pico de energia invade o CND de Dianna, torrando seu cérebro. A armadura branca desmorona. Por pequenos orifícios no elmo, um líquido grosso composto de sangue e massa encefálica escorre, vertendo para os bueiros nas laterais do asfalto.
Davi e Marcela observam abismados a luminescência azul se apagar vagarosamente nas costas de Bel.
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André Luis Almeida Barreto
Aspirante a escritor, inquieto por natureza, ainda tenho vontade de mudar o mundo ou pelo menos colocar um monte de gente para pensar. Viciado em livros, games, idéias loucas e sempre procurando coisas que desafiem minha imaginação.
Gostei bastante desse capítulo, mas como não venho acompanhando engenharia reversa desde o começo fiquei um pouco perdida.
ResponderExcluirNão faz bem meu gênero literário, mas com certeza vou procurar o primeiro capítulo.
Oii!
ResponderExcluirGostei desse capítulo, me deixou curiosa ainda mais pra conhecer mais a fundo o livro...
Parabéns André!
Bjs!
Obrigado, Aline! Espero que goste!
ExcluirParei de ler, pois acho chato ler picadinho. Mas pretendo ler tudo de uma vez quando for possível.
ResponderExcluir:)
ExcluirFiquei um pouco confusa porque não conhecia a estória. Vou juntar todos os capitulos e ler em sequencia porque é melhor.
ResponderExcluirOi, Ana Paula, nunca tinha te visto por aqui! Mas leia tudo sim, e deixe sua opinião!
ExcluirComecei a ver desde o primeiro capítulo pra poder entender melhor, então não li ainda esse capítulo, pretendo ler tudo na ordem.
ResponderExcluirAbraços :)
Não tenho acompanhado os capítulos, mas você está escrevendo uma história fantástica. :)
ResponderExcluirOi, Andreza, muito obrigado, mesmo!
ExcluirConfesso que já estava sentido falta de um conforto desse tipo rsrs; a cena de ação foi ótima!! Fico cada vez mais abismada com os poderes da Bel.
ResponderExcluirPs: Zynor morreu?! Sério?! Logo agora que eu o estava achando um personagem interessante... Poxa, isso não se faz rsrs.
Aguardando o próximo capítulo.
Abraços!
Olá, Any. Muito obrigado pelo comentário! Infelizmente alguém iria morrer, e sobrou para o Zynor, a vida é dura! Abraços!
ExcluirSó agora me toquei que essa bookserie está sendo escrita aqui no blog. Sempre que via um post sobre ela, achava que era a resenha de uma série de livros ou HQ juvenis. Vou procurar os primeiros capítulos. Uma sugestão: postem um lista com os links dos capítulos em ordem crescente.
ResponderExcluirObrigado,
André Gama, do Garotos Perdidos
Boa! Andre! Vai ajudar mesmo!
ExcluirValeu!
André!
ResponderExcluirEscrever ficção é bem difícil e você tem criatividade de sobra escrevendo essa série fabulosa.
Parabéns!
“Muitas palavras não indicam necessariamente muita sabedoria.” (Tales de Mileto)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
André!
ResponderExcluirEscrever ficção é bem difícil e você tem criatividade de sobra escrevendo essa série fabulosa.
Parabéns!
“Muitas palavras não indicam necessariamente muita sabedoria.” (Tales de Mileto)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/