Carbono Alterado [Richard Morgan]

Ed. Bertrand Brasil, 2017 – 490 páginas

- "Um eletrizante thriller noir de ficção científica em adaptação para série do Netflix. No século XXV, a consciência de uma pessoa pode ser armazenada em um cartucho na base do cérebro e baixada para um novo corpo quando o atual para de funcionar. A morte, agora, nada mais é que um contratempo inconveniente, uma falha no programa. Takeshi Kovacs, um ex-militar de elite, após sua última morte, tem sua consciência transportada a Bay City, a antiga São Francisco, e é trazido de volta à vida para solucionar o assassinato de um magnata. Isso só para descobrir que seu contratante é a própria vítima, que voltou à vida em um novo corpo, mas sem as memórias do crime. Mal sabe Kovacs, porém, que essa investigação irá lançá-lo no centro de uma conspiração perversa até para os padrões de uma sociedade que trata a existência humana como um produto a ser comercializado. "

Onde comprar:

Saraiva, Amazon

Os gêneros ficção científica e thriller policial tiveram um filho e seu nome é Carbono Alterado. Ok. Talvez eu esteja exagerando um pouquinho, mas essa é uma tendência minha (que eu particularmente acho que torna as coisas mais interessantes), espero que não se incomodem.

Voltemos ao livro. Richard Morgan faz um ótimo trabalho na construção de mundo. Ele não para a história pra te explicar como mundo futurístico que concebeu funciona, as informações são reveladas aos poucos e (salvo raríssimas exceções) de forma bastante orgânica, tanto que é possível que você fique um pouco perdido nos primeiros capítulos. Isso não me incomodou, na verdade eu considero um ponto positivo quando o livro não me conta tudo através de grandes diálogos expositivos. Prefiro um milhão de vezes ficar um pouco perdida no começo do que aguentar um monte de informações enfiadas na história a troco de nada, apenas porque o autor precisa te contar mais sobre o mundo e não encontrou uma forma melhor de dizer do que jogando as informações na sua cara de forma pouco coerente com enredo.

A história é narrada em primeira pessoa por Takeshi Kovacs, um ex-militar transferido para Bay City pra solucionar a morte de um milionário. Kovacs é do mundo de Harlam (um dos planetas que a a humanidade colonizou) e nunca esteve na Terra antes, o que também se torna um recurso narrativo muito interessante. Como acompanhamos tudo pelos olhos de Kovacks, através das comparações que ele faz entre seu planeta e o nosso descobrimos tanto coisas sobre Harlam, quanto coisas sobre essa Terra do futuro.

Gostei do Takeshi. É um bom personagem na maior parte do tempo. Infelizmente está preso à clichês do gênero policial, mas como mesmo esses clichês ganham uma nova roupagem aqui, isso não me incomodou. O livro tem outros personagens interessantes, a maioria do sexo feminino. Preste atenção nos nomes, são muitos e os personagens entram e saem da trama. Tipo Game Of Thrones, você se distrai por dois minutos e de repente tem mais quinze pessoas em cena.
Ok. Estou exagerando de novo.

“ Enquanto me vestia diante do espelho naquela noite, tive a nítida convicção de que outra pessoa vestia a minha capa e que eu tinha sido reduzido ao papel de um passageiro, observando por trás dos olhos.
Rejeição de psicototalidade, é como chamam. Ou simplesmente fragmentação.”

Outra coisa que eu gostei bastante no livro foi a capacidade de me surpreender. Adoro quando leio alguma coisa que eu não estava esperando, quando o vilão é outra pessoa ou quando algum personagem faz algo completamente diferente do que eu estava esperando (mas algo coerente com a personalidade já estabelecida, colocar o personagem pra fazer alguma coisa que o torna completamente diferente do que o autor já estabeleceu só pra ser diferentão e surpreendente não vale). Na maior parte do tempo esses momentos inesperados fazem todo sentido dento da narrativa. Palmas pro autor de novo.

A Netifix comprou os diretos com o intuito de adaptar pra uma série e eu entendo perfeitamente o porque. Carbono Alterado é uma ótima história e abre todo um universo de possibilidades que, se bem trabalhado, tem potencial pra virar uma mina de dinheiro. A premissa é excelente e qualquer fã de sci-fi/thriller vai se interessar. Pensa comigo: estamos no futuro, a raça humana colonizou vários planetas, a consciência/alma/mente/o-que-quer-você-acredite-que-torna-o-ser-humano-único agora pode ser instalada em um cartuxo na base do pescoço e “baixada” para um novo corpo ou, como eles chamam no livro, uma nova capa. Isso torna a dinâmica desse mundo diferente da que temos hoje. Ainda existem jogos de poder, crimes, fanáticos religiosos, traficantes, mas de um jeito diferente, adaptado pra essa realidade super tecnológica.
No IMDB, já é possível ver a lista de personagens e de episódios. Se é real, eu não sei, mas to bem animada pra assistir (#NãoMeDecepcionaNetiflix).

Carbono Alterado é uma história forte, bem elaborada, com uma construção de mundo excelente e que vai agradar tanto quem curte romance policial, quanto quem gosta ficção científica. Estou ansiosa pelos próximos livros. Tenho evitado começar trilogias e séries que não tenham sido finalizadas ainda por motivos de: os autores demoram pra escrever e eu fico em agonia por anos a fio (tô olhando pra vocês George Martin e Patrick Rothfuss). Mas a premissa desse livro é tão interessante que eu achei que valia a pena arriscar. Espero sinceramente que o Richard Morgan não demore pra publicar o restante da trilogia.

Então, por hoje é só.
A gente se encontra na próxima resenha.

Top Comentarista de Setembro

Andressa Freitas

Mineira, aspirante à escritora e estudante de cinema. Se pudesse moraria em uma biblioteca, como não posso, estou empenhada em transformar minha casa no mais próximo disso possível. Viciada em séries e filmes, adoro ler, comer e viajar. Nerd assumida, fotógrafa de profissão, amo aprender coisas novas e imaginar histórias alternativas pra absolutamente tudo.

Cortesia do Grupo Editorial Record
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