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15.2.18

[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXVII - Não Me Force a Fazer Isso

André Luis Almeida Barreto


Engenharia Reversa


Parte XXXVII - Não Me Force a Fazer Isso


Trinta minutos antes da explosão da Quimera, Nova Esperança, Ninho do Gavião.

Dentro do pátio repleto de cadáveres, Bel e Davi estão lado a lado. Um pouco mais afastado, Maestro está apoiado no chão, examinando algo. Bel observa detalhadamente o grande portão de ferro, notando que o mesmo está entreaberto. Davi olha com interesse para a entrada da torre de controle; bem na frente da porta, ele percebe um punhado de rifles espalhados pelo chão, a maioria ao lado dos corpos de seus antigos donos.

Davi dá alguns passos na direção da torre, para por um segundo, olha de relance para Bel que agora observa uma imensa coluna de fumaça proveniente da cidade.

- Ei! Acho que devemos voltar lá pra cima. Procurar um rádio e tentar contactar os brasilianos para saber quanto tempo eles vão demorar para chegar aqui. E também podemos procurar alguma ferramenta para tentar tirar esse capacete da sua cabeça, o que você acha?

Ela permanece calada, pensativa. Volta o olhar para o portão, seu impulso e avançar até ele e prosseguir para Nova Esperança, porém, se vira para Davi, precisa saber se ele vai acompanhá-la ou se vai prosseguir para o Brasil. Subitamente, nota a mochila verde oliva nas costas do rapaz; a lembrança de onde a viu pela última vez volta rapidamente à mente.

- Davi, por que você fez isso?

- Fiz o quê? - ele a encara, perplexo. - Você ouviu o que eu disse? A gente tem que voltar lá pra cima! E outra, acho uma boa ideia colocar as mãos naquelas armas.

Bel não se move, franze a testa e fixa o olhar no rosto do biohacker.

- Por que você pegou o o cristal de dados?

- O quê? Ah! O Datacrys? - ele abre um sorriso convencido. - É só uma garantia, entende? Se tudo der errado pelo menos não vou sair com as mão abanando.

O olhar de reprovação dela não surte nenhum efeito.

- Vem, vamos logo lá pra cima!

- Davi, esse cristal pertence ao povo de Nova Esperança, pertence aos sobreviventes dessa tragédia toda que nós trouxemos para cá!

O biohacker dá de ombros, seguindo em direção aos rifles espalhados no chão. Bel mexe a cabeça em uma negativa. Nenhum dos dois nota que Maestro está perto, e que porta um fuzil.

- Fim do assunto. Você vem ou não?

Bel espera alguns segundos, fitando o rapaz com uma expressão compadecida.

- Apesar de tudo, não achei que iríamos terminar assim.

- Terminar assim? O que diabos quer dizer com isso? Que eu saiba, nós já terminamos faz um tempão! - Ele se aproxima de um rifle. - Agora, temos é que nos proteger! Não vê que ficar aqui embaixo é perigoso? Não temos certeza de que a VNR se foi e ainda podem ter soldados espalhados por aí.

Ele se abaixa e pega com cuidado na empunhadura do rifle, levantando a arma do chão.

- Pare aí mesmo, Davi - a voz grave e seca de Maestro faz o rapaz se virar bruscamente. - Largue a arma.

- Como é? Enlouqueceu? - protesta Davi, surpreso.

- Você me ouviu bem. Largue a arma e levanta-se.

- Ei! Que diabos você tá fazendo, Maestro? - grita Bel, indignada.

O armador devolve um olhar frio, automaticamente, aponta o fuzil para Davi.

- Voltem os dois para a torre. Fiquem lá até os brasilianos chegarem. Eu vou montar guarda aqui fora, garantir que tudo vai correr bem.

Davi aquiesce com a cabeça, larga a arma e retrocede para junto de Bel, que por sua vez aproxima-se de Maestro com um olhar desafiador. Instintivamente, ele aponta o fuzil para ela.

As pupilas de Bel se dilatam, ela não consegue acreditar no gesto de Maestro.

- Então... é isso? É assim que acaba? Agora é você que vai nos manter prisioneiros? - questiona com a voz trêmula.

Maestro percebe os olhos da biocomputador ficarem marejados.

- Você concordou com o plano, Bel, concordou em ir para o Brasil. Você sabe que somente lá estará segura. Agora, por favor, não faça nada estúpido e vá para a torre. O resgate já deve estar chegando.

Bel ergue a cabeça, controla a vontade de chorar e cresce na frente dele.

- Não. Eu te avisei, eu não vou para o Brasil. Eu não vou me tornar uma arma de guerra e causar mais destruição e morte. Vou fazer o que é certo.

- E o que é o certo, Bel? Olhe a sua volta! Todas essas mortes, tudo que passamos até aqui, tudo isso precisa acabar! E a única forma é com a sua ajuda! Nenhuma das mortes foi em vão, mas se você não for comigo para o Brasil tudo que aconteceu até agora não valerá de nada! Nada!

Uma lágrima corta o rosto de Bel. Maestro engole seco, mas mantém a mira nela. Olhos nos olhos. Após um silêncio desconcertante, e ela quem fala:

- O certo é salvar nossos amigos. É isso que vou fazer, com ou sem a ajuda de vocês. Esse mundo está perdido, e não sou e nem o seu exército que vai salvá-lo.

Bel dá as costas para Maestro. Espera alguns segundos e então começa a avançar na direção do portão. Ao passar por Davi, ele a segura pelo braço, puxando-a para perto de si.

- Yagami! Você enlouqueceu de vez ? Não é possível! Deve ser essa coisa aí na sua cabeça! Você acha que vai durar quanto tempo nesse inferno? Eles vão fazer você em pedacinhos ou coisa pior! Cai na real, por favor!

- Me largue, seu imbecil! - Com um empurrão no peito de Devi, ela se solta, então, por alguns segundos, crava os olhos em Maestro.

- Faça o que quiser. Faça o que o seu coração, ou a sua cabeça, achar correto.

Com passos decididos, Bel avança em direção ao portão. Ela esfrega o rosto com raiva, enxugando as lágrimas. Suprime o desejo de olhar para trás, se esforça para não chorar, lutando para se manter firme, e consegue.

Maestro sente o peito palpitar. Sua mente, antes centrada e calculista, agora parece desmoronar em um turbilhão de emoções. Ele tenta acalmar os pensamentos, tenta diminuir a respiração, concentrar-se. Bel está cada vez mais perto do portão. Rapidamente, ele mira na perna esquerda dela. Força a soleira da arma contra o ombro, começa a flexionar o dedo no gatilho; sua respiração acelera, o coração quase explodindo; solta o gatilho, abaixa o fuzil.

- Bel Yagami! Por favor, eu te suplico! Não me force a fazer isso. Eu...

Um brilho intenso surge no céu. Todos os sons cessam. A luminosidade engole tudo em sua frente. Maestro e Davi, instintivamente, fecham os olhos e se lançam ao chão. Assustada, Bel protege o rosto e começa a correr. Um violento estrondo faz o chão tremer. Assustada, ela se joga aos pés do portão. Uma onda de choque titânica engole Nova Esperança e rapidamente atinge a muralha do Ninho do Gavião, estraçalhando os pesados blocos de granito que a formam e derrubando o pesado portão de ferro. Uma esfera de fogo gigantesca consome o que restou da cidade.

https://www.facebook.com/engenhariareversalivro

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André Luis Almeida Barreto
Aspirante a escritor, inquieto por natureza, ainda tenho vontade de mudar o mundo ou pelo menos colocar um monte de gente para pensar. Viciado em livros, games, idéias loucas e sempre procurando coisas que desafiem minha imaginação.

21 comentários em "[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXVII - Não Me Force a Fazer Isso"

  1. Oi, André.

    O capítulo surpreende, no final. Afinal, uma escolha e decisão momentânea estavam em jogo.

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  2. Se entendi bem, Bel não quer vir para o Brasil (quem pode culpá-la rsrs) e esse final me deixou curiosa pra sabe o que aconteceu :D :D

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  3. André!
    Estava com saudades..
    Nossa! Loucura 'roubar' o cristal, agora vamos ver o que irá acontecer...
    “Ninguém é assim tão velho que não acredite que poderá viver por mais um ano.” (Cícero)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA FEVEREIRO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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    1. Eu também! Estava doido para terminar esse capítulo. Roubar o cristal foi uma decisão arriscada do Davi, e que terá consequências em breve... Abraços!

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  4. Oi André
    Primeira vez que leio sobre essa bookserie, e curti.
    Parece emocionante e cheio de suspense.
    Beijos

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  5. Puxa, primeiro contato com esta bookserie e já tive que ir atrás de mais informações!
    Se começa assim, imagina no decorrer dos capítulos?
    Adorei o ritmo frenético e quero saber muito o que vai acontecer.
    Beijo

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  6. Olá André!
    Arrasou heim?!
    Fui surpreendida com toda essa intensidade de ter que escolher, fiquei me corroendo pra saber o que virá agora !
    Bjs!

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  7. Nossa que episódio tenso, fiquei pensando se realmente Maestro teria coragem de atirar na Bel, mas acredito que sim. Fiquei curiosa com o que vai acontecer depois disso, a cidade consumida pelo fogo.

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  8. Olá. Acho que já vi esse livro por aí mas não sabia que o post era uma booksérie. Super legal!
    Beijos
    http://www.suddenlythings.com/

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  9. Finalmente um novo capítulo! Senti falta de ler todos os meses...
    E agora com essa explosão, como é que a Bel vai salvar os amigos?! Curiosíssima!
    E atitude do Maestro, me deixou bem surpresa... Aguardado o próximo capítulo.
    Bjos, mais uma vez parabéns!

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  10. Oi André.
    Adorei o capitulo, faz um tempinho que não apreço por aqui, por isso vou dar uma olhada nos capitulos anteriores, esse final foi incrível, estou ansiosa para saber o que acontece.
    Parabéns e muito sucesso.

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  11. Olá!
    Já estava sentindo falta dos capítulos, fazia um bom tempão em. Gostei muito do novo episodio e já estou curiosa pro próximo. O que será que vai acontecer??

    Meu blog:
    Tempos Literários

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    Respostas
    1. Pois é, recesso de final de ano...rs. Obrigado, Lily. Abraços!

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  12. EU SOFRO POR NÃO GOSTAR DE FANTASIA E AVENTURA,SINTO QUE ESTOU PERDENDO HISTÓRIAS INCRÍVEIS,QUEM SABE NÃO VOU CHEGAR NA FASE DE DEVORAR UM LIVRO LINDO DESSE SEM SER POR OBRIGAÇÃO E SIM POR AMOR

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  13. Oi André,
    Ultimamente estou vendo seriados com personagens de inteligência artificial bem interessantes.
    E na trama espero que eles cheguem ao Brasil em breve.
    Desejo inspiração sempre~

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  14. Oi, André!
    Nossa fortes emoções nesse capítulo! E agora o que aconteceu, esse final foi eletrizante!
    Bjos

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