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19.7.18

[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXIX - Vulcões de Ferro

André Luis Almeida Barreto

Engenharia Reversa

Parte XXXIX - Vulcões de Ferro

Maestro acorda subitamente. Com um espasmo, ele se levanta assustado. Olha ao redor, reconhecendo, apesar do tempo, que está em um dos quartos do Hospital dos Oficiais, em Brasília. Sente um desconforto no peito ao ver os eletrodos. Suas pernas estão cheias de ataduras, e um conjunto de agulhas bombeia criogel para seu braço esquerdo. Lembra-se da explosão, das chamas que o atingiram, e de Bel. Provavelmente, agora ela já estaria nas mãos do governo. Seu coração acelera.

De repente, o monitor ambulatorial ligado ao corpo de Maestro dispara, emitindo bips estridentes. Em um instante, um punhado de enfermeiros e médicos invade o quarto.

- Capitão Daniel! - diz surpreso o médico chefe.

O capitão olha seriamente para o médico e começa a remover os eletrodos do peito. Duas enfermeiras correm para ajudá-lo.

- Tire-me daqui, doutor. Quero ver Bel Yagami imediatamente.

- Mas o senhor ainda não está cem por cento curado, capitão. Seria prudente esperar mais algumas horas até que o criogel possa cicatrizar por completo suas queimaduras.

- Eu disse agora.

Intimidado, o médico obedece, ordenando para alguns enfermeiros removerem os eletrodos e as agulhas.

Então, um pequeno grupo de militares entra no quarto. Eles não conseguem esconder a admiração ao encontrar Maestro.

- Capitão Daniel, é uma honra estar em sua presença, temos uma dívida imensa para com o senhor. E fico muito feliz em vê-lo plenamente recuperado - diz a oficial de mais alta patente.

Maestro fica confuso. Vê a patente de tenente no uniforme dela, mas não a reconhece.

- Onde está o tenente Gabriel? Pelo que me recordo, ele era o oficial em comando no Grupamento Tático Um.

A militar abre um sorriso amarelo:

- Muito prazer, sou a tenente Soraya. Gabriel está infiltrado na República de São Paulo, em missão de coleta de informações. Eu assumi o comando do GT1. Capitão, o senhor passou muito tempo fora, e como vai perceber, muita coisa mudou por aqui.

Maestro desvia o olhar para o chão, pensativo.

- Está certo, tenente. Mas agora eu preciso ver Bel Yagami. Ela carrega em seu sistema a consciência de um grande amigo meu.

Surpresos, todos no quarto olham para Maestro sem entender o que ele acabara de dizer.

- Como assim, a consciência? E você não deveria fazer amigos em sua missão, capitão - questiona Soraya.

- Passei dez anos vivendo em uma cidade-estado corporativa, tive que construir uma equipe e depois uma organização. Não se faz isso sem encontrar pessoas confiáveis, e pessoas confiáveis tem mais chances de se tornarem amigos. Não se preocupe, tenente, Thiago não é um agente corporado.

A tenente fica sem resposta. Todos no quarto olham para ela, esperando por suas palavras. Então, ela cede:

- Entendo perfeitamente, capitão, e vou sim levá-lo até ela, mas antes o Marechal o aguarda. Tome um banho, prepare-se e vista seu uniforme. Vamos esperar lá fora.



Daniel se sente estranho. Olha para o espelho e não se reconhece. Seu rastafári fora cortado, assim como sua barba. Agora tinha os cabelos muito curtos e vestia o uniforme das Forças Especiais Brasilianas. O rosto liso revelando as marcas da idade, mas era uma pessoa completamente diferente. Ao menos por fora, o armador conhecido como Maestro havia morrido.

- Senhor, está pronto? - um praça o questiona, aproximando-se da porta do banheiro.

Daniel vira-se para ele e confirma com a cabeça.

Os dois saem do quarto, dando de cara com uma recepção de médicos, enfermeiros e militares. Todos começam a aplaudir Daniel calorosamente. Soraya gesticula, pedindo que ele a siga.

- Você está muito melhor assim - ela elogia ao ver o novo visual do capitão.

Escoltados por muitos soldados, eles passam por vários corredores. Mais saudações e aplausos. Muitos param o capitão para abraça-lo.

Daniel e Soraya pegam um elevador deixando a escolta para trás. Chegam até um alto andar do hospital e caminham até a saída, chegando a uma passarela a céu aberto. No final da passarela Daniel pode ver um aeródromo e uma pequena nave pousada. Ele sente o ar abafado e olha para cima, assustando-se com o tom cobreado dos céus de Brasília, repleto de nuvens que deixam o dia escurecido.

- Por que o céu está dessa cor? O que aconteceu?

- Ah, não se preocupe, são apenas as forjas. Um pequeno preço a se pagar pelo bem maior.

- Forjas? Você quer dizer fábricas? As fábricas ficavam na Zona Industrial bem longe daqui, no Vale de São Patrício pelo que me recordo. Não deveriam existir fábricas no meio da cidade!

Soraya ri, divertida.

- Lembra que eu disse que muita coisa mudou por aqui? Pois é, nos últimos anos o Marechal colocou em prática o Plano Quinquenal, que estabelece como prioridade a reindustrialização do país. Por isso foram construídas novas fábricas em praticamente todo o território nacional e, graças a elas, somos a maior potência industrial do continente.

- Não é possível! Esse plano havia sido reprovado pelo Senado! Eu me lembro da votação! E como assim o Marechal colocou o plano em prática? O Marechal é o líder das Forças Armadas, ele não é um político!

Soraya o encara com seriedade.

- Capitão, o Marechal desmontou o parlamento a oito anos atrás, dois anos depois de sua partida.

Daniel estanca. Desvia o olhos de Soraya e observa a cidade: prédios cinzentos gigantescos por todos os lados, ruas entupidas de pessoas lembrando um grande formigueiro. Ao sul, norte, leste e oeste ele vê construções colossais que lembram pirâmides, expelindo para a atmosfera assustadoras colunas de fumaça de seus cumes, como se fossem vulcões de ferro em erupção. A cena é perturbadora para Daniel, pois sua mente teima em lembrar-lhe do céu azul sem fim e dos grandes parques que embelezavam a capital do Brasil. Porém, os eventos políticos que o abalam ainda mais.

- O que você quer dizer com desmontou o parlamento? Isso aqui era uma democracia!

- Capitão, a democracia é uma ilusão - ela segura nos ombros dele. - Burocratas e políticos só atrapalham. Desde que o Marechal assumiu o poder, nosso país finalmente voltou a crescer. A democracia foi implantada quando o general Guedes morreu, anos depois da final da maldita revolução, e teve lá seus méritos, mas ela atrasava nosso desenvolvimento. Como você pode ver, com o regime do Marechal nossa indústria produz dia e noite, incansável!

Irritado, Daniel segura um braço de Soraya, puxando-a para perto.

- Um golpe? Você está me dizendo que o Marechal deu um golpe e o Exército o apoiou?

- Solte-me! - ela puxa o braço de volta. - Não diga uma blasfêmia dessas! Você não estava aqui, não tinha a menor ideia das tragédias que o primeiro ministro estava fazendo. Desmilitarizou a polícia, reduziu o orçamento militar, cogitou uma reaproximação com a República Fluminense e os outros países rebeldes, e queria firmar acordos com a GFA! Entende? Jamais teríamos o Brasil de volta se dependesse daquele maldito parlamento!

Daniel fica desesperado, e nota que Soraya o está estudando. Ele franze a testa, fechando o rosto para impedir que suas emoções se externalizem. Rapidamente se lembra do passado, de como o Marechal o enviara para Vitória assegurando-lhe que a missão fora aprovada pelo parlamento. "Tudo um ardil, tudo parte de uma estratégia, o Marechal já estava colocando em movimento seu plano para tomar o poder", pensa enfurecido. O sangue ferve, mas ele consegue manter o controle. Friamente encara Soraya:

- Entendo, tenente. Entendo perfeitamente. Não podemos confiar em burocratas. O Marechal é um gênio!

Soraya sorri, aliviada.

- Eu sabia que você entenderia, capitão. Você, mais do que todos, sabe que na guerra sacrifícios precisam ser feitos.

- Sim, claro. Mas afinal o que as forjas tanto produzem?

- Ora essa, capitão, vai dizer que não sabe? Armas, obviamente! Temos um exército capaz de arrasar as forças combinadas dos países rebeldes e ainda banir a GFA de nosso continente para sempre! E a última peça que faltava o senhor nos entregou: Bel Yagami.

Daniel sente um aperto no coração, mas mantém a expressão fechada. Soraya volta a andar e ele a segue. Os dois chegam ao aeródromo e embarcam na nave de transporte, ela prontamente decola, manobrando no céu, então acelera, partindo na direção do Palácio do Governo.

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André Luis Almeida Barreto
Aspirante a escritor, inquieto por natureza, ainda tenho vontade de mudar o mundo ou pelo menos colocar um monte de gente para pensar. Viciado em livros, games, idéias loucas e sempre procurando coisas que desafiem minha imaginação.

16 comentários em "[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XXXIX - Vulcões de Ferro"

  1. Oi, André,

    Uau... Cada vez mais as coisas começam a se intensificar, visto que, agora, descobertas vieram à tona.

    Enfim, tô gostando de acompanhar todo esse cenário.

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  2. Muitas mudanças o capitão assimilar e ele ainda tem que encontrar Yagami :D

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  3. Muito bom esse capítulo. Acordar diante de tantas mudanças e ainda ter que se preocupar com todas as descobertas. Aguardando para ver o que acontecerá com Bel agora.

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  4. É uma pena que demore para sair os capítulos desta série fantástica, mas cada vez que sai, a gente percebe o quanto a história vem se desenvolvendo a cada nova linha.
    O capitão precisou mudar, fato! E com isso, os demais personagens também!!!
    E pelo que entendi, há também um jogo de poder no meio de tudo isso!!!
    Adorei!
    Beijo

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  5. Eita que eu já tava com saudades de um capitulo novo.
    Coitado do capitão, não sei como ele não entrou em desespero diante de tantas mudanças para assimilar e ainda a procura de Yagami. Curiosa já pelos próximos acontecimentos.

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  6. Oi André!
    Precisei ir lá ler o post anterior pq não estava me lembrando...
    Mais um capítulo trazendo grandes acontecimentos na série, cada vez mais fico curiosa pra descobrir o que no próximo.
    Adorei!
    Bjs!

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  7. O Mastro se meteu em uma enrascada, hein?!... E a Bel, será que ele vai conseguir salvá-la?!
    Nossa, curiosíssima para saber as respostas! Esperando ansiosa o próximo capítulo!
    Abraços.

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  8. A cada capítulo a trama fica mais envolvente!
    Será que ele irá conseguir encontrar a Bel??
    Estou curiosa já.

    beijinhos
    She is a Bookaholic

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  9. André!
    Dessa vez demorou a continuação, hein?
    Mas super valeu a pena esperar, porque está ficando mais cheio de expectativas e dúvidas. Espero que tudo se resolva.
    Desejo uma semana plena de luz e paz!
    “O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.” (Blaise Pascal)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA JULHO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  10. Nossa, faz tempo que não leio nada da booksérie. Estou um pouco sumido, mas acredito que a série não aparece há um tempo também, né? Vou tentar retomar a leitura e acompanhar tudinho!

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  11. André,
    Muito bom quando algo me surpreende...
    Sem dúvidas tem uma trama envolvente, e pelo que acompanhei começa a ficar mais agitada. Gostei!
    Beijos

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  12. Olá!
    ummm...Parece que agora as coisas começarão a se desvendado..Espero conhecer o desfecho da trama..Estou bastante ansiosa já pro final! hahaha

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  13. Olá! Parece que Maestro foi usado desde o início para que o Exército pudesse tomar o poder, vamos ver o que ele fará agora com essa descoberta.

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  14. Oi, André!
    Mais um capítulo maravilhoso dessa história incrível!! Aguardando ansiosa a continuação!
    Bjoss

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  15. Preciso voltar e começar a ler desde o começo senão sinto que vou perder acontecimentos bem importantes para a história e não vou conseguir compreender tudo, mas pelo o que eu vi existem mistérios sendo relevados nesse capítulo e senti pessoas ansiosas pensando em possíveis desfechos.

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  16. Olá, André
    Essa demora compensou esse capitulo cheio de reviravoltas, adorei. Ansiosa para o próximo episódio.
    Beijos

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