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30.8.19

[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XLV - Delta


Engenharia Reversa

Parte XLV - Delta

Um grupo de paramédicos atravessa a praça com passadas aceleradas. Os músculos em seus braços estão tensionados, pois o peso da maca que transportam é demasiado. Sobre a maca, inconsciente, reside a forasteira meio humana, meio máquina, capturada além da redoma.

Os paramédicos evitam olhar para o corpo cibernético, muito parecido com aqueles que no passado trouxeram opressão para Delta, porém suas mentes estão inquietas, indagando quem ela realmente é. Alguns a consideram uma guerreira granitense de um novo tipo, enviada para destruí-los. Para outros, ela pode ser alguém das cidades de metal e concreto do outro lado da Terra Maldita, pois lá, ouviram dizer, é comum as pessoas trocarem carne e ossos por membros cibernéticos, afim de obterem vantagens. Contudo, todos eles concordam que ela é perigosa e que devem se livrar dela o mais rápido possível.

A medida em que se aproxima do hospital, o grupo é flanqueado por multidões curiosas, que ao reconhecerem as partes de metal no corpo da ciborgue, explodem em reações de protesto. Porém, os cidadãos exaltados não ousam se aproximar, pois guerreiros de alta patente estão escoltando os paramédicos.

Na entrada do hospital, uma tropa de enfermeiros supervisionados por um médico de idade avançada recebe Amanda. Aliviados, os paramédicos movem a ciborgue para uma cama motorizada, vigiados de perto pelo médico, e então afastam-se, aguardando que sejam liberados.

- Os batimentos, vamos, verifiquem os batimentos - ordena o médico.

Após fixarem a paciente-prisioneira na cama, uma enfermeira aponta um aparelho em forma de pistola para Amanda. Na parte de trás da arma, um largo visor de cristal líquido exibe os dados coletados em tempo real.

- Ela está muita fraca, mas ainda vive, doutor.

O velho sinaliza para os paramédicos, dispensando-os, em seguida, acena para sua equipe, que prontamente obedece. A cama motorizada começa a se mover ladeada pelos enfermeiros e por alguns guerreiros, os restantes, tomam posição na entrada do hospital encarando a multidão inquieta que acumula-se na rua.

Blips ecoam pela sala penumbrosa. Isolados em uma cabine de vidro, operadores em jalecos azuis manipulam controles que movem grandes braços mecânicos localizados no centro da sala. Os braços giram no ar orbitando o corpo de Amanda, deitado em ângulo obtuso sobre uma superfície metálica articulada, seus pés e mãos estão presos por travas magnéticas . Ao redor dela, homens e mulheres vestidos com jalecos brancos tomam notas e examinam os implantes cibernéticos expostos, enquanto um técnico aplica elétrodos e sensores ao logo do corpo

Quando o último elétrodo é posicionando, um alerta sonoro é disparado e, em resposta, a equipe sai da sala, restartando apenas os dois operadores na cabine de vidro.

- O diagnóstico está pronto para a execução - diz um homem.

- É, acho que podemos rodar. Vai ser melhor a gente se antecipar, assim teremos o resultado antes dos figurões chegarem - responde uma mulher.

- Figurões? Achei que só o Anteros viria. Os brutamontes dele estão aí fora montando guarda já tem tempo.

- Achei desnecessário.

- O quê?

- Esse monte de soldados. Ela não me parece uma ameaça - a mulher aponta para Amanda.

- Martha! Como não? Você viu os implantes? São diferentes de tudo que já encontramos, certamente são perigosos!

- Olhe bem pra ela, homem! Está quase morta e já sabemos que não é de Nova Esperança. E esses implantes na realidade são bem... bem fascinantes!

O homem meneia a cabeça, em seguida olha para a colega com reprovação.

- Você já se esqueceu de nosso passado, Martha? Foram essas - ele olha para Amanda - coisas que escravizaram nossos avós. Tenha mais respeitos por eles!

- Não seja ridículo, Antony! Não foi ela que escravizou nosso povo! O que aconteceu no passado morreu no passado. Ela pode ser uma aprimorada, mas não é parte da Divisão Gavião e muito menos uma granitense. Vocês precisam parar de viver no passado, caramba!

- Está bem, está bem. Agora, por favor, posso rodar o diagnóstico?

***

Anteros anda de um lado para o outro em seu escritório. Com os braços para trás e os dedos cruzados, os olhos voltados para o chão como se procurassem por alguma coisa. O som de sua respiração, através da máscara, ganha volume em meio ao silêncio do escritório. Então, abruptamente, ele deixa o recinto com passadas rápidas.

Cada soldado que cruza o caminho de Anteros o cumprimenta, e apressadamente ele responde, evitando parar e até mesmo olhar nos olhos dos subalternos. Ele cruza o corredor de chão de pedra e paredes de vidro verde e sai do quartel, chegando na praça central da cidade. Por algum tempo, observa as pessoas absortas em suas rotinas, seguras, certas de que a vida continuará boa e próspera. Anteros suspira, sentindo o peso da responsabilidade.

Um pequeno veículo alado surge alguns metros acima. Com o flexionar de suas asas, ele inicia uma manobra de pouso e rapidamente estaciona diante do militar. O veículo é pequeno, em forma de triângulo, possui um amplo assento na parte de trás, e um único banco na parte da frente, onde está o piloto. Não possui teto, e é inteiramente verde, da mesma cor do cristal utilizado na construção dos prédios de Delta.

- Para onde, senhor? - diz o piloto.

- Palácio do Governo, o mais rápido que puder.

Minutos depois, a pequena aeronave aterriza no jardim decorativo que rodeia o palácio do governo. O prédio situa-se exatamente no ponto central da cidade, e como todas as outras construções , tem suas paredes feitas de um cristal verde translúcido. Após uma curta caminhada pelo jardim, Anteros chega a entrada principal, onde dois guardas, ao reconhece-lo, abrem espeço para ele passar. O interior do palácio é amplo e decorado com vitrais que contam a história da fundação de Delta, e Anteros não se detêm para apreciá-los, como fez em outras ocasiões. Ele cruza o átrio e chega ao elevador panorâmico, e segundos depois entra no Salão Comunal, no último andar do palácio.

O andar é uma estrutura circular com janelas que proporcionam uma visão de trezentos e sessenta graus, no momento, apenas iluminado pelas luzes verdes que emanam da cidade. Ao centro, existe uma única mesa oval e cumprida, com doze cadeiras, onde em um dia normal os representantes do povo, a Comuna, deliberaria sobre os rumos da sociedade. Entretanto, apenas uma cadeira está ocupada.

- Viridia?

A mulher, vestida de preto dos pés à cabeça, sentada na cadeira do extremo oposto da sala, vira-se para Anteros.

- Isso é muito incomum. E só estou aqui sozinha porque o pedido partiu de você.

- Obrigado, Viridia, muito obrigado mesmo. Infelizmente, o assunto exige que seja dessa forma, máxima urgência.

- Estou vendo. E é tão importante que você descartou os canais oficiais de comunicação, que você mesmo garante que são seguros...

- Os riscos são demasiados altos, e apesar de tudo que fiz, não posso descartar a chance de que existam falhas na nossa estrutura, falhas tão pequenas que enganam nossas varreduras binárias. E eu preciso falar com você primeiro, antes de reportar à Comuna.

Viridia fica de pé. Com passos lentos, ela aproxima-se de uma das janelas e observa a cidade por alguns segundos.

- Entendo. Da mesma forma que os espionamos, eles podem nos espionar. É uma dedução lógica, na verdade. Mas não entendo porque quer falar comigo antes. Bem, de qualquer forma, vamos ao que interessa, diga.

- É o Brasil.

- O quê? Como assim o Brasil ?

- O Marechal.

- Certo. Sabemos que o Marechal está tramando algo, mas ele não possui poder suficiente para ser considerado uma ameaça.

- Não possuía.

Viridia aproxima-se do militar, ficando cara-a-cara com ele, algo que nunca fez antes. Seus olhos negros brilham como lâminas, refletindo as luzes da cidade. Intimidado, Anteros aguarda para falar.

- Continue, por favor - diz Viridia.

- Nossos contatos em Brasília reportaram que o Marechal conseguiu realizar uma gigantesca operação de transferência de consciências. Quase toda a população teve suas mentes inseridas em corpos robóticos, porém, a quantidade de robôs e cinco vezes maior que a população, então possivelmente ele copiou consciências para ocupar todos os corpos.

- Isso... isso é impossível! Como aquele miserável conseguiu essa tecnologia?

- Não foi tecnologia desenvolvida pelos brasilianos, disso tenho certeza.

- Então o que foi ?

- O Marechal... o Marechal conseguiu uma EBC, uma biocomputador.

Viridia dá de ombros, anda até a outra extremidade da mesa e senta-se novamente.

- Então a VNC fracassou em recuperar Bel Yagami, e ela foi coagida pelo Marechal?

- Sim, suponho que foi isso.

Viridia soca a mesa.

- Quais nossas chances ?

- As menores. Mesmo com os cristais nossas forças seriam superadas em números, e além disso, o Marechal possui canhões atômicos que podem acabar com nosso escudo em segundos, ele só precisa protegê-los de um ataque direto, e isso ele pode fazer agora. Então, só nos resta uma opção: devemos evacuar Delta imediatamente.

- Evacuar? Você está louco, Anteros? E para onde iríamos? Para outro planeta? Não. Tem que existir outra opção. Uma saída diplomática, talvez.

- O Marechal jamais aceitaria um acordo. Para ele, sempre seremos inimigos ideológicos. Por isso mesmo retiramos nossa rede do Brasil a tanto tempo. Me escute, por favor: Eu solicitei essa audiência somente com você pois você é a melhor estrategista de Delta, sua opinião pode influenciar a Comuna inteira, e você sabe que eles decidiram pela guerra, algo que nós dois não queremos, pois sabemos que e é uma guerra que não podemos vencer. Já tenho o plano de evacuação pronto, só preciso da sua ajuda para convencer a Comuna.

- Não, Anteros, fugir não é e nunca será uma opção.

Anteros esmurra a mesa.

- Você não está entendendo, Viridia, ou fugimos ou seremos massacrados!

Silêncio. Então, após vários minutos, Viridia volta a falar:

- E a ciborgue Amanda Makarim ?

- A prisioneira? O quem tem ela ?

- Leve-me até ela.

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28 comentários em "[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte XLV - Delta"

  1. Estava com saudades dos capítulos

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    1. Oi! Agora vamos matar essa saudade, rs. Novos capítulos já prontinhos para sair! Obrigado!

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  2. Nossa, quanto tempo não li amais uma capítulo desta saga que cada vez que é postado mais um, eu preciso reler o anterior..rs(minha memória é uma negação)
    Amanda nesse capítulo lembra muito a história de Robocop, apesar de claro, todas as diferenças e sim, dela carregar um fardo ainda muito pesado.
    Quase morta não é estar de fato morta,então podemos estar uma reviravolta no próximo capítulo???
    Aguardemos!
    Beijo

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    1. Pois é! Amanda é praticamente a Robocop, rs. A reviravolta vai vir sim! Muito em breve! Beijo!

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  3. Olá! ♡ Nossa, ainda não conhecia essa história, mas já adorei esse título, chamou bastante minha atenção.
    Quando eu tiver um tempinho disponível, vou começar a ler desde o primeiro capítulo! ♡
    Beijos! ♡

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  4. Olá!
    Faz um tempão que não leio um capitulo da trama. Fiquei um tanto curiosa para o próximo e o que irá acontecer.

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  5. Essa bookserie é mega empolgante, e sempre deixa um gostinho de quero mais.
    Gostei desse capítulo.

    Beijos

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  6. Olá! Eita que temos mais uma reviravolta na história, esses finais sempre me deixam ansiosas pelo próximo capítulo.

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    1. Quero ver então quando você ler os próximos, rs. Obrigado por ler, Elizete!

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  7. Oiii ❤ Gostei bastante da escrita, quando tiver tempo irei começar a ler direitinho, desde o capítulo um.
    Não sabia que essa história era postada aqui no blog, mas gostei bastante de saber e vou gostar de acompanhar a partir de agora.
    Beijos ❤

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  8. Olá André!
    O círculo está se fechando à medida que o Marechal dá continuidade ao seu plano, deixando as opções de Anteros bem limitadas. Mas gostei da posição de Viridia, que aparenta ter algo em mente para contra atacar. Só quero ver como Amanda se encaixa em tudo isso nos próximos capítulos.
    Beijos.

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    1. Só posso dizer que nos próximos capítulos a coisa vai esquentar, e muito, rs! Amanda e Viridia são no fundo bem parecidas, só que uma resolva as coisas na força bruta, a outra na diplomacia! Muito obrigado, Alison, beijos!

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  9. Olá André!
    eu medo do que está por vir! Será que Amanda será a solução? Ou melhor, será que irá sobreviver? Acho que ela é a ultima esperança de Delta. Também concordo com Viridia que fugir não é a solução, é preciso resistir, mesmo que os planos do Marechal sejam assustadores.
    Beijos

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    1. Exato! Resistir sempre! E se prepare para os próximos capítulos, vai ser tenso. Beijos, Aline!

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  10. Olá!
    Fiquei um pouco perdida pois voltei a acompanhar o blog há pouco tempo, então não entendi muito bem pegando pelo meio da história.
    Mas apenas nesse pouco que li da história deu pra ver que ela tem uma escrita bem envolvente e personagens cativantes.
    Vou ver se depois arranjo tempo pra ler desde o começo ;)
    Bjos

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  11. Tava esperando uma resenha por algum motivo hahahaha Adorei esses capitulos, mas não sei como funciona? É algo que vcs escrevem ou o que? >.> Sou nova no blog e estou bem peridade

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    1. Então, Gêmea, é uma bookseria onde publicamos os capítulos com certa regularidade. Já está bem avançada, e se quiser você pode ler os capítulos iniciais, pois tem tudo no link da página principal. E seja muito bem vinda!

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  12. Oi, André!!
    Gostei de ler esse novo capitulo. A bookserie sempre deixa um gostinho de quero mais!!
    Bjs

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  13. Olá, André
    Já estava sentindo falta desses capítulos.
    Gostei muito de saber que Amanda esta viva e estou bem curiosa para saber do assunto que Viridia vai ter com ela.
    Ansiosa para o próximo capítulo.
    Beijos

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    1. Oi, Luana. Obrigado por ler! Te dianto que vai ser um assunto bem sério! Bjos!

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  14. Oi, André!
    Adorei esse capítulo, bem interessante, gostei, é ficção científica? Eu não leio do gênero, mas fiquei curiosa, vou ler mais depois com tempo!
    Boa escrita!
    bjs

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    1. Olá, Ana. É sim! Já estamos publicando tem um tempo. Se gostar, fala aqui pra gente o que tá achando! Bjos!

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