Cortesia da Editora Rocco
A reconstrução do mundo
Toda vez que me deparo com a escrita de Margaret Atwood percebo a importância da palavra, a potência da comunicação na criação da vida. Como diz a Bíblia: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus..."
Em MaddAddão (Rocco, 448 páginas) Atwood nos dá uma aula de como se encerrar com chave de ouro uma trilogia que foi se intensificando a cada volume, ampliando horizontes, sobrepondo situações factíveis e assustadoras. Não vejo onde a palavra poderia ter sido tão bem empregada como o foi aqui.
Título: MaddAddãoOnde comprar: Amazon
Autor: Margaret Atwood
Tradutor: Márcia Frazão
Série: MaddAddão
Editora: Rocco
Gênero: Distópico, Ficção científica
Páginas: 448
Edição: 1ª
Ano: 2019
❤ Favorito
No primeiro volume "Orix e Crake" o mundo é vítima de uma pandemia, pensada e criada pelo genial Crake, que também cria humanoides gentis, imunes a vicissitudes próprias do ser humano e possuem envelhecimento retardado. O objetivo era o de que o mundo fosse reiniciado e repovoado apenas por estes seres perfeitos.
“Eles são extraordinariamente bonitos, pensa Toby. Ao contrário de nós. Eles devem achar que somos subumanos com nossas segundas peles a balançar, nossos rostos envelhecidos e nossos corpos deformados, muito magros, muito gordos, muito peludos e encaroçados. A perfeição tem um preço, mas quem paga é o imperfeito.”
Em "O ano do dilúvio", segundo volume da série, Atwood retroage a um período anterior ao da pandemia para explicar o funcionamento da sociedade - o monopólio exercido pela Corps (megaempresa que abarca todos os segmentos, desde alimentos a experiências genéticas) e a luta dos Jardineiros de Deus, uma seita que prega a união entre natureza e religiosidade, contra o status quo.
“(...) O perdão deve ser oferecido, a bondade deve ser praticada, os círculos não devem ser rompidos. Todas as almas significam realmente todas, a despeito do que possam ter feito. Pelo menos do instante em que a lua nasce ao instante em que ela se vai.”
Enfim chegamos a "MaddAddão" que no original é o palíndromo "MaddAddam", outra sacada genial: Adão deu nome aos animais vivos, MaddAddão, o doido Adão, dá nome aos mortos.
Muitas personagens dos romances anteriores são retomadas com destaque para Toby, Zeb e Jimmy, o Homem das Neves. Todos têm seu caminho doloroso a percorrer. Alguns buscam o perdão, outros o amor e há aqueles que buscam apenas não enlouquecer em meio ao caos.
“Um dia Toby e Ren haviam dispensado a segurança da cabana de MaddAddão que abrigava os poucos sobreviventes da pandemia global que dizimara a humanidade. As duas rastrearam Amanda, a melhor amiga de Ren, e a encontraram a tempo porque os dois painballers abusaram tanto dela que já tinham quase acabado com a garota. Toby conhecia a maneira de agir daqueles homens; ela mesma tinha sido quase morta por uns dias antes de se juntar aos jardineiros de Deus. Qualquer um que tivesse sobrevivido mais de uma vez à Painball acabava reduzido a um cérebro reptiliano. Sexo até o esgotamento e você virar um caroço, esse era o método; depois você era o jantar. Eles gostavam dos rins.”
Um trecho como este pode nos remeter à violência desmedida e de certa forma o é. Painballers são ex-prisioneiros das corporações (Corps no centro de tudo) que ganharam o direito de viver após luta sangrenta com outros prisioneiros, como gladiadores modernos. Atingiram o status de lenda e perderam a empatia com a humanidade. Não sentem remorso e não têm nenhum sentimento a não ser a vontade de satisfazer seus instintos mais primitivos.
Reunidos, os poucos sobreviventes têm que se precaver destes monstros em forma humana, dos animais geneticamente modificados e inteligentes que os ameaçam e da falta de alimentos. E é aí que a genialidade de Atwood fala mais alto. Em meio a este turbilhão insensato de catástrofes e perigos, estes abnegados terão que cuidar da nova raça, os Crakers, e domar os sentimentos que têm um pelo outro.
Jimmy se sente culpado pela morte de sua amada e a culpa é como uma bala no tambor de uma arma. A arma é potencialmente letal e pode ser disparada para aliviar o sofrimento. Toby, sempre dura e forte, aparentemente amarga e insensível, vive o sentimento aniquilador do ciúme que a fragiliza e Zeb guarda um segredo (sua ligação com Adão Um, líder do Jardineiros de Deus), carrega as dores do mundo e a esperança de encontrar seu irmão. A violência é colocada em segundo plano e a palavra de ordem é "amor", somente o amor pode salvar. O amor de Jimmy por quem já não existe, o amor de Toby por Zeb e de Zeb por seu irmão desaparecido. O amor das criaturas puras e inocentes, Crakers, que nada sabem e que veneram mitos como Crake e Oryx.
Enfim, este livro trata da reconstrução do mundo, do quanto as pessoas podem suportar o sofrimento e de que a luta pode nos levar a um lugar melhor do que a inércia nos levaria. É preciso ter esperança, é preciso lutar por ela. Como diria o velho Jagger: "Você não pode ter sempre o que quer, mas se você tentar pode descobrir que consegue o que precisa!"
O final é de encher os olhos e por ele dei 5 estrelas com louvor por falta de mais estrelas. O mundo ideal não existe, mas ele pode se tornar um lugar aprazível, basta olhar ao redor e tomar para si improváveis aliados. A crítica mordaz e ferrenha de Atwood é um alerta a todos. Que tenhamos mais seres pensantes como Atwood e que mais e mais leitores a conheçam.
Propositalmente evitei falar do enredo porque não quero tirar de ninguém o prazer deste final.
Se você quiser conhecer um pouco sobre os livros anteriores desta trilogia, clique nas capas para ler as resenhas:
Margareth é fantástica não é?
ResponderExcluirSó ela para encerrar essa trilogia com chave de ouro.
Ela consegue escrever sobre tecnologia, genética, humanidade e maldade de maneira ímpar.
Ela nunca decepciona
Sou uma fã incondicional do trabalho de Margareth e não vejo a hora de conferir essa trilogia desta mulher que não só apresenta uma realidade infelizmente, mas que também mostra um universo distante e tão perto de cada uma de nós..rs
ResponderExcluirE pelo que entendi este livro é como uma redenção não da personagem, mas de todos ali no enredo desde o início.
O mundo tem salvação, só precisamos acreditar e também fazer nossa parte!
Beijo
Rodolfo!
ResponderExcluirImpactante, né?
Não conhecia a série, mas já gostei de ver que mesmo prevendo um futuro (que já é o nosso presente, concorda?) tão cheio de agrura, tem pontos bem interessantes, porque as distopias são sempre muito criativa, cheias de personagens e de alguma forma, trazem críticas aos governos.
cheirinhos
Rudy
Preciso conhecer a escrita da Margaret o quanto antes.
ResponderExcluirPretendo iniciar através de O conto da aia, mas sabendo melhor dessa trilogia, acredito que vou querer ler também.
Sinto que ela tem uma escrita forte, marcante e com temas necessários sendo discutidos.
Beijos
Oi Rodolfo,
ResponderExcluirEssa união do real, o fictício e as possibilidades fizeram dessa trilogia algo diferente e muito interessante. Recomeçar algo já faz parte da vida de todo ser humano e não seria tão absurdo pensar em quantas coisas no mundo precisam de um novo começo. Serei honesta contigo e dizer que acho um pouco confuso se inteirar da história só com as resenhas, pois é aquele tipo de trama que precisa ser vivenciada, mas tudo o que descreveu aqui só me deixou mais curiosa. Margaret Atwood é das autoras, que ainda não conheço a escrita, mas que já admiro pela genialidade.
Olá! Estou bem empolgada para começar a ler essa trilogia, o enredo parece ser daqueles que nos prendem do início ao fim, que nos trará muitas reflexões sobre nossas atitudes, e tenho certeza que será maravilhoso, finalmente, conhecer a escrita dessa autora extraordinária.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirA Margaret é uma escritora maravilhosa. Ela consegue criar universos que nós achamos tão absurdos, mas que estão tão próximos da nossa realidade que chega a ser chocante.
Ainda não li essa trilogia, mas quero muito, porque essa mulher é incrível.
Não conhecia a autora, mas o título e o enredo me chamaram a atenção, com certeza irei ler!
ResponderExcluirjá li O conto da aia, de Margaret Atwood e aprendi que política e religião pode ser uma mistura perigosa,já quero muito ler esse livro e a nova edição do conto da Aia em edição graphic Novel.
ResponderExcluirOlá! ♡ Ainda não tive a oportunidade de conhecer a escrita da Margaret Atwood, mas morro de vontade, pois sempre a elogiam por suas críticas muito bem feitas e sua genialidade. A premissa dos livros dela sempre chamam minha atenção.
ResponderExcluirA autora parece ter dado um final digno para a história, um final muito bem construído e que agradou os fãs. Acho que a Margaret poderia dar uma aula de como terminar com louvor uma trilogia para certos escritores, que ao contrario dela, estragaram o final de suas trilogias, eu conheço vários kkkk.
Eu achei muito interessante que o livro trata da reconstrução do mundo, estou bem ansiosa para ver como a autora trabalhou isso na trama.
Muito obrigada pela indicação, sinto que preciso conhecer a escrita da autora o mais rápido possível! Estou muito curiosa para conhecer o mundo que ela criou nessa tão aclamada trilogia.
Beijos! ♡
Oiii ❤ Ainda não li nada da autora, mas tenho muita vontade, já que sempre vejo elogios acerca de sua escrita e das críticas sociais presentes em suas obras.
ResponderExcluirA premissa da trilogia é ótima, já que é curioso que tenha por base uma pandemia e a crianção de seres "evoluídos" para repovoar o planeta.
Eu gostei da mensagem de esperança passada no livro, que é necessário tê-la mesmo em meio a tanto sofrimento.
Estou curiosa para saber com mais detalhes como esse mundo funciona, como é viver nele e tudo mais.
Beijos ❤
Eu estou aqui me questionando o porquê de ainda não ter lido nada de uma autora tão incrível, essa trilogia parece ser maravilhosa, daquelas que nos fará refletir muito, principalmente sobre muitas das nossas ações enquanto ser humano hein.
ResponderExcluirMinha curiosidade maior pela trilogia são os comentários positivos, pois a história do livro não é meu estilo, mas a curiosidade falou mais alto e quero dar uma chance a escrita da autora.
ResponderExcluirOi, Rodolfo
ResponderExcluirTenho muita vontade de ler os livros da autora, depois dessa resenha sinto que tenho que ler algo dela o quanto antes.
Essa trilogia é fantástica e confesso que um pouco assustadora com algumas semelhanças com a realidade.
Beijos
Oi, Rodolfo
ResponderExcluirQuero ler todos os livros da Margaret Atwood, e essa trilogia parece ser incrível mesmo!
Esses novos tipos de seres humanos parecem muito interessantes, complexos e ainda cheio de problemas igual a nós mesmo kkk achei um universo bem criado e original.
Adoro livros com universos diferentes dos nossos e cheios de dramas, e esse parece ser dos bons!
bjs
Oi, Rodolfo!!
ResponderExcluirAinda não tive o prazer de ler nada da Margaret Atwood, mas essa trilogia MaddAddão parece ser uma história incrível demais!! Fiquei super empolgada depois de ler essa resenha para saber mais sobre esses livros incríveis!!
Bjs