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25.11.20

Marrom e Amarelo [Paulo Scott]

Paulo Scott

Cortesia do Grupo Companhia das Letras

Esse é o primeiro livro que eu leio que trata tão abertamente da questão do colorismo que, pra quem não sabe, é a discriminação racial baseada no fenótipo e nos tons de pele. Isso quer dizer que quanto mais pigmentada a pele e quanto mais visível a presença de traços negros, maiores e mais violentos serão o preconceito e a discriminação sofridos pela pessoa em questão.

Esse é um tipo de discriminação muito comum, devido à miscigenação, em países que sofreram a colonização europeia, sobretudo naqueles onde houveram regimes escravocratas, como é o caso do Brasil.

Pessoalmente como mulher não-branca (parda?), acho esse um tema não só interessantíssimo como extremamente necessário.
Marrom e Amarelo
Título: Marrom e Amarelo
Autor: Paulo Scott
Editora: Alfaguara
Gênero: Ficção
Páginas: 204
Edição:
Ano: 2019
Onde comprar: Amazon

Federico (assim, sem o “R” mesmo, por um erro do cartório), é um homem de quase cinquenta anos, pardo de pele clara e cabelo liso que cresceu na periferia de Porto Alegre numa família de classe média composta por pai (preto), mãe (preta de pele clara) e o irmão mais novo, Lourenço (preto de pele retinta).

Cito o contexto racial em que ele cresceu porque essa é uma questão crucial pra história. Federico é um personagem que, embora se reconheça como negro, também entende que o fato de ter cabelo liso e pele clara, faz com que ele seja facilmente lido como branco. O que significa que, embora ele também esteja suscetível a sofrer preconceito em alguma medida, ele nunca será um alvo tão direto quanto seu irmão, por exemplo.

O livro é narrado em primeira pessoa por Federico e é possível sentir, linha após linha o quão cansado ele se encontra de lidar uma e outra vez com as questões do racismo tão entranhado no nosso país. Advogado e militante de causas raciais, ele acaba de ser convocado para uma comissão cujo objetivo é determinar os parâmetros pra um novo software que pretende identificar quais alunos tem direito às cotas raciais nas universidades, mas ao saber da prisão da sobrinha durante uma manifestação, decide voltar à cidade onde cresceu para ajudar.

“E eu estou assim, com essa sensação insana de fim de festa, de que mais nada anda valendo muito a pena, Que a vida, a minha vida, em perspectiva, é muito menos do que eu imaginava, eu disse.”

Marrom e Amarelo é uma história de retorno (ainda que involuntário) e trás à tona questões sobre racismo, colorismo e não-pertencimento. E, embora os personagens aqui retratados sejam fictícios, as situações pelas quais eles passam não o são. Preconceito racial ainda é (infelizmente), uma realidade no Brasil. Ter autores abordando esse tipo de tema, especialmente em uma ficção, é de extrema importância.

Ouvi, certa vez, que: “o Brasil é um país mal resolvido com suas maiores dores”. E é verdade. Não falamos sobre os erros que cometemos enquanto nação, não fazemos um mea culpa. Seguimos em frente, simplesmente. Nosso jeito de lidar com nossas mazelas históricas é o apagamento. Fingimos que nunca aconteceu. Fingimos que racismo não existe. Fazemos de conta que negros tem as mesmas oportunidades e são tratados da mesma forma que a parte branca da população. Ignoramos propositalmente o fato de que quanto mais pigmentada a pele, maior e mais profundo é o abismo social em que a pessoa se encontra.

E enquanto não falarmos sobre o assunto, enquanto não trouxermos esses temas (por mais dolorosos que sejam), pra literatura, pra música, pro cinema e pras rodas de conversa, não seremos capazes de deixar pra trás nosso passado nefasto e todas as consequências dele que ainda reverberam nos dias de hoje.

Marrom e Amarelo é uma leitura interessantíssima. O texto é inteiro escrito em uma espécie de fluxo de consciência, com parágrafos enormes e descartando completamente o uso de marcadores específicos para os diálogos, como travessões ou aspas. Mas o livro é curtinho, então creio que até mesmo quem não é muito fã desse estilo de escrita acaba conseguindo ler sem problemas. Espero que você dê uma chance.

Abraço!

20 comentários em "Marrom e Amarelo [Paulo Scott]"

  1. Fiquei lendo sua resenha desse livro que ainda não conhecia e me perguntando os motivos de um livro assim não estar a disposição de todos nós.
    Seria tão mais fácil se perdêssemos esse medo, esse tabu de falar abertamente sobre o racismo, de discutir e sim, lutar por igualdade!
    Estamos num ano que fez com que todos os sentimentos ruins e bons viessem à tona e infelizmente, os casos de racismo aumentaram demais e isso entristece, pois sim, ainda tem gente preferindo fechar os olhos a enxergar que essa luta é de todos nós!!!
    Adorei a ideia do livro e já vai pra listinha de desejados com certeza!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. ola
    hoje mesmo estava vendo uma reportagem que cita como os brasileiros estão vivendo e a renda dos brancos é muito acima da renda dos negros . então é uma situaçao de exclusão sim dos negros
    mas e´ como voce resenhou o nosso país não assume que tem preconceito e prefere seguir em frente.isso é lamentavel .

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  3. Andressa!
    Acho importante podermos ler e discutir livros que tratam do racismo, porque é como falou, aqui no Brasil é um anto quanto velado esse sentimento, mesmo que sejamos descendentes de índios, negros e europeus.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Oi, Andressa! Super me interessou esse livro. É extremamente necessário esse tema e de uma importância absurda estar presente na literatura. Há tanta riqueza na diversidade! É triste e revoltante ainda estarmos presenciando cenas de racismo. Sobre o estilo do texto, me fez lembrar Saramago.

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  5. Realmente muito interessante, Andressa e principalmente necessário na época atual.
    Federico vive situações ímpares ao não se "encaixar" em nenhum padrão imposto

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  6. Oi, Andressa!

    Já tinha ouvido falar a respeito do livro, mas não sabia do que ele trata de fato. E realmente, ele aborda um assunto de extrema importância e complexo. Eu mesma, ás vezes me confundo quando vejo uma pessoa que é negra, mas que as características físicas "não se encaixam". É uma questão muito além de aparência física, mas de herança cultural e descendência mesmo. Então, é um livro bem interessante e, de certa forma, deveria ser um livro de leitura obrigatória. Pelo que pude absorver da sua resenha, ele ensina muitas coisas sobre o assunto e informação sobre nunca é demais.

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  7. Um livro que por mais que tenham negros que sofrem racismo todos os dias chega a me impressionar. Esse livro e vários outros que abordam racismo deveria ser obrigatório pelo menos nas escolas, apesar que ler sobre, não vai mudar as atitudes de um racista. Os negros sofrem muito para conseguir o quê os brancos conseguem de mão beijada. O racismo e Sá crônico no Brasil e no mundo.

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  8. Não é o tipo de livro que costumo ler, mas também acho o assunto muito interessante e, principalmente, necessário de ser discutido (mesmo sendo doloroso, como você ressaltou). Acredito que o formato dele me atrapalharia um pouco na leitura, já que não mostra direito os diálogos.
    Beijos

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  9. De fato, é uma leitura muito necessária. Estou tentando ler mais livros com essa temática, pois são leituras que só tem a acrescentar.
    Eu gostei do que essa obra trata e a maneira como é narrada é convidativa.
    Espero ler em algum momento.

    Beijos

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  10. Sim, é um assunto que não deve ter períodos, meses ou datas específicas de discussão, mas sim diariamente. Sou negra e já tive situações muito constrangedoras.
    Gostei muito da quantidade de páginas, da sua avaliação e das críticas. Sempre vejo o final da resenha pra saber se o livro foi bom pra ficar mais atenta ao desenvolvimento.

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  11. Olá! Parece ser um enredo bastante atual, realmente é importante um livro que aborde esse tema, pois é extremamente complicado essa divisão que a sociedade impõe em definir cor da pele basicamente apenas em preto e branco, e como ficam aqueles que não se identificam/encaixam nesses padrões? Dica anotadíssima.

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  12. Olá Andressa!
    Adorei conhecer esse livro pela sua resenha. Realmente nosso país finge que o racismo não existe, enquanto ele cresce a cada dia. O dilema de Federico é muito interessante, não sabia dessa questão do colorismo, é algo muito complexo e só quem vivencia deve saber como é. Dica de leitura super anotada.
    Beijos

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  13. As pessoas no Brasil esquecem da existncia do colorismo, que é o racismo mais comum por aqui. Como se houvesse uma palheta do que é aceitável. Li esse livro e fiquei muito chocada em como abordam isso bem. Me trouxe uma outra perspectiva.

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  14. Olá Andressa!
    Diante dos recentes eventos que ocorreram no país, essa obra não poderia ser mais pertinente para fazermos uma grande reflexão, não é verdade?
    Colorismo é um assunto que eu ainda não tive a oportunidade de desbravar na literatura, e essa obra parece ser mais do que competente em nos mostrar como funciona essa forma de discriminação. E como foi dito acima, é importante que discussões extensas sejam feitas para que um dia o racismo e qualquer forma de preconceito fiquem no passado.
    Beijos.

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  15. Oi, Andressa!
    Acho que nunca vou entender essa "necessidade" da sociedade classificar as pessoas de acordo com sua com de pele, e espero nunca entender isso... Pra mim, todos somos iguais, independentemente da cor, do gênero, da religião.
    Confesso que Marrom e Amarelo não faz o meu estilo de leitura, é que prefiro romances, mas concordo com você, ter autores abordando o tema preconceito racial é de extrema importância, e se a oportunidade de ler a história de Federico surgir lerei com certeza!
    Bjos, valeu pela dica!

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  16. Nossa! O livro simplesmente aborda temas tão atuais e importantes que acho que deveria ser leitura obrigatória hein! Sem dúvida, apesar de ser ficção, temos aqui muito da nossa realidade o que torna a leitura ainda mais interessante e importante.

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  17. Oi, Andressa
    Tá aí tema importantíssimo.
    Adorei a dica e a resenha, lerei com certeza.
    A história do Federico parece nos ajudar a abrir nossos olhos para o tanto de racismo que há no Brasil. E preciso combatê-lo.
    Bjs

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  18. Chance para esse livro é c om certeza. É muito importante esse assunto sobre colorismo, e o nosso país esta passando por situações muito difíceis em relação a isso. Livros que debatem esse assunto, deveria ser mais divulgado, eu quero ler esse livro mais que brevemente.

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  19. Oi, Andressa
    Esse livro tem uma trama fascinante, que se faz necessária.
    Infelizmente tem muito preconceito aqui logo nós que temos diversidade de raças.
    Quero ter oportunidade de ler, beijos.

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