[Bookserie] Engenharia Reversa: Parte LII - Herança

Engenharia Reversa

Parte LII - Herança

Thiago caminha com suas pernas robóticas na direção da cama de ferro onde, deitado sobre um colchão em frangalhos, o capitão Daniel recupera os sentidos. O robô verifica os sinais vitais do militar, cujo corpo foi brutalmente espancado por soldados brasilianos.

Ao remover um punhado de eletrodos da cabeça do oficial, Thiago executa uma última varredura nos órgãos vitais de Daniel.

- Vocês está bem, Maestro. Em breve estará pronto para sair daqui.

O militar levanta o tronco com dificuldade, apoia-se no braço bom e se senta na cama, fixando o olhar em Thiago. Não há nada ali que o faça se lembrar do jovem hacker que ele havia tirado das ruas. Agora Thiago é possui um corpo robótico de proporções alongadas, concebido para servir de médico de campanha para os soldados do exército brasiliano.

- Cuidei de você por cinco dias - continua Thiago.

- Obrigado. E... lamento que tudo isso tenha acontecido.

O robô dá de ombros, movendo-se na direção da porta.

- Maestro, levante-se e venha comigo, tem algo que aqui que você precisa ver.

Um pouco confuso, o capitão obedece. Com dificuldade ele apoia os dois pés no chão, sente uma level tontura, mas logo recupera o controle sobre o próprio corpo.

Os imensos corredores e demais instalações do Complexo Presidencial estão completamente vazios. Thiago conduz Maestro até o lado oposto do andar, onde eles embarcam em um elevador de carga cuja a porta é quase imperceptível.

- Essa parte do complexo era mantida secreta pelo Marechal - diz Thiago. - Imagino as implicações que seus segredos poderiam gerar se viessem a tona.

- Do que você está falando afinal, Thiago?

- Calma. É melhor você ver por si mesmo.

A porta do elevador se abre. Os dois estão em um laboratório secreto, onde ao fundo, Maestro consegue ver um imenso tanque de vidro.

- Lá - Thiago aponta para o tanque. - Vá até lá.

Desconfiado, o capitão obedece. Quando se aproxima, ele começa a enxergar formas humanoides flutuando dentro do invólucro. Os corpos parecem estar adormecidos, são ao todo cinco, e usam máscaras por onde tubos de plásticos parecem supri-los com oxigênio.

- Não! Não pode ser!

A visão de Maestro torna-se turva, e ele cai de joelhos na frente do tanque. Sua mente busca uma explicação, tem que existir alguma! Estarrecido, o capitão Daniel não consegue acreditar em seus olhos: cinco homens exatamente iguais a ele estão dentro do tanque.

- Infelizmente estão mortos. Tentei salvá-los, mas já era tarde demais.

Ainda abalado, Daniel volta-se para Thiago:

- E como eles morreram?

- O Marechal desligou o sistema de suporte de vida, pouco depois que chegamos aqui.

- Aquele filho da puta. Eu não... eu não consigo entender.

- Existiam originalmente dez clones. Cinco foram enviados a partes diferentes do mundo com a missão de capturar bio-computadores, porém, quatro falharam. Como o quinto obteve sucesso, os restantes, que serviam de back-up, não eram mais necessários.

- Cinco clones? O que você quer dizer com isso, Thiago?

Pela primeira vez a voz do robô soa em um tom diferente.

- O indivíduo matriz, de onde o material genético original foi coletado, está morto a muito tempo. Lamento, Maestro, mas você é um clone do filho do Marechal.

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