A fúria de uma guerreira
Ainda me encontro maravilhado pela leitura de Boudica – Livro 1: Águia (Bertrand Brasil, 656 páginas). É difícil encontrar palavras quando assim ficamos. Pesquisei a vida dos Césares romanos e cheguei ao cúmulo de pesquisar em atlas as rotas de viagens comerciais da época, que eram as mesmas utilizadas para a guerra, só para ter um apoio histórico, tamanha a fissura que fiquei. Mas há pouca documentação a respeito de Boudica, que é estudada por especialistas em busca de pistas sobre essa guerreira, cujo exército fez tremer os romanos. A história é sempre contada pelos povos vencedores, portanto tudo fica muito difícil de se provar, já que o nome desta guerreira desapareceu para só retornar no reinado de Elizabeth I, que tentara ligar seu nome a ela, tornando-a um ícone.
Título: ÁguiaOnde comprar: Amazon
Autor: Manda Scott
Tradutor: Claudia Gerpe Duarte
Série: Boudica
Editora: Bertrand Brasil
Gênero: Romance Histórico
Páginas: 656
Edição: 1ª
Ano: 2011
❤ Favorito
Para se ter uma ideia da complexidade da história, basta dizer que ela se inicia no período 32 d.C (data importante para os cristãos que não são mencionados) neste Livro 1, em que o mundo civilizado era governado por ninguém menos que Calígula e finaliza com a morte do mesmo e o início do curto império de Claudio (pai de Nero, e é em Nero que provavelmente a história culminará).
Para quem gosta de história como eu, é um prato cheio, porém para quem não gosta terá uma narrativa tão bela e poética que se tornará fã. Muitos já tentaram contar os feitos desta rainha; até Marion Zimmer Bradley (a mesma de As Brumas de Avalon) em seu livro Os Corvos de Avalon, mas ninguém o fez com a amplitude de Manda Scott. É claro que a autora tomou inúmeras liberdades, mas ainda assim é fascinante.
O livro é propositalmente descritivo para sabermos dos hábitos e costumes da época de uma Grã-Bretanha selvagem, repleta de superstições, visões e druidas, onde se misturam a arte de se forjar espadas, criar cavalos e cães para a batalha, tradições perpetuadas através do canto e confrontos em nome dos deuses. A maioria dos personagens principais realmente existiu, tais como o rei Cunobelin que no final de sua vida se revoltou contra o jugo romano e se uniu a Boudica e seus 3 filhos herdeiros, Togdubnos (o diplomata), Amminios (o ambicioso) e Caradoc (o guerreiro, fundamental neste romance), Venútio (líder dos Brigantes) e Cartmandua (esposa e rainha, que se insurgiu contra o marido Venútio, mantendo relações amigáveis com os romanos), entre tantos outros.
Segundo Dião Cássio em História Romana: “Boudica era alta, terrível de olhar e abençoada com uma voz poderosa. Uma cascata de cabelos vermelhos alcançava seus joelhos; usava um colar dourado composto de ornamentos, uma veste multicolorida e sobre esta um casaco grosso preso por um broche. Carregava uma lança comprida para assustar todos os que deitassem-lhe os olhos.”
Foi com essa imagem que iniciei a leitura deste livro, que conta sua formação desde a infância e os motivos que moldaram “a guerreira” escolhida pelos druidas da ilha de Mona para representá-los, além de, por direito hereditário, liderar seu povo, os icenos (a realeza era passada através da linhagem feminina). Quem assistiu a “Coração Valente” se lembrará dos escoceses pintando o corpo de azul, isso se dá pelo fato de a Escócia ser a antiga terra dos icenos, representados pela cor azul durante as batalhas.
Há passagens tão belas, com um poder dialético tão profundo que não poderia deixar de colocá-los aqui, mesmo que em pequenas passagens. Bán, ainda criança, discute com Amminios durante um jogo de tabuleiro, após o mesmo apostar um menino escravo:
“— Você não pode apostar a vida de um homem em um tabuleiro de jogo — disse ele (Bán).
Amminios levantou uma sobrancelha.
— Ele não é um homem. É um menino belga de oito anos, vendido pelo pai a um romano na Gália, e eu posso fazer com ele o que bem entender. Eu o ganhei em um jogo; nada impede que eu o perca da mesma maneira — declarou Amminios sorrindo, enquanto arrumava as pedras no tabuleiro. — Só que não pretendo perder.”
Amminios levantou uma sobrancelha.
— Ele não é um homem. É um menino belga de oito anos, vendido pelo pai a um romano na Gália, e eu posso fazer com ele o que bem entender. Eu o ganhei em um jogo; nada impede que eu o perca da mesma maneira — declarou Amminios sorrindo, enquanto arrumava as pedras no tabuleiro. — Só que não pretendo perder.”
Sobre o primeiro contato de Boudica com o campo de batalha, mortos e feridos:
“(…) Não era como os cantores transmitiam; nenhum deles falara de entranhas vazias, intestinos rasgados, sangue e ossos despedaçados, e da agonia do tempo que a pessoa levava para morrer quando o golpe não era certeiro. No entanto, eles também não haviam captado, por mais que tivessem se esforçado, o êxtase absoluto, imaculado e cristalino que a invadia, a certeza de que era para isso que ela nascera.”
O amor ao ar livre, no meio do campo de batalha:
“Tudo aconteceu de todas as maneiras, e ao mesmo tempo de nenhum modo, como ela imaginara. Eles ainda não se conheciam daquela maneira; Breca (Boudica) estava acostumada a outros ritmos. Eles se esforçaram para afrouxar a roupa e manter a privacidade em um lugar que estava ao alcance dos ouvidos de todos os homens, mulheres e crianças que permaneciam vivos no lado norte do rio-mar. Ambos tinham visto o acasalamento frenético de outros guerreiros reunidos depois da batalha pela intimidade compartilhada pela morte iminente e tinham necessidade de não sentir o mesmo. Os deuses sorriram e enviaram a névoa para envolvê-los e deixar o mundo do lado de fora. Mais tarde, com a bruma ainda densa, o mundo poderia ter se insinuado para espiar e eles não teriam notado.”
Apesar de o livro se tratar de Boudica, o personagem que me cativou foi o talentoso Bán, seu meio-irmão vidente, que carrega o peso de uma visão que mudará o curso de toda a história. Então fiquem de olho neste personagem maravilhoso, não vou dar mais nenhum detalhe sobre ele.
Os animais também têm função especial aqui, já que eles aparecem em visões trazendo a palavra dos deuses, além de serem tratados de uma maneira equivalente a qualquer guerreiro, como era costume entre este povo.
Este é um romance histórico de tirar o fôlego, a história de uma mulher que ousou enfrentar o invencível exército romano com seus guerreiros. Em uma só palavra: apaixonante!
Que resenha mais apaixonada, Rodolfo!
ResponderExcluirInteressante demais!
E olha que é só o livro 1....vem muito mais por ai
Confesso que nunca fui muito chegada a história, sempre tive uma certa dificuldade.
ResponderExcluirMas com suas palavras deu para perceber o quanto este livro foi interessante para você.
Gostei bastante da personagem principal, parece ser uma mulher Forte.
Suas palavras são cativantes. Primeira vez que leio algo sobre esse livro, e já estou fascinada. Gosto de romance histórico, mas ainda não li nada do tipo. Dá para sentir que é uma obra bem construída.
ResponderExcluirAbraços
Não é fácil ler um livro grande, mas quando chegamos no fim e vemos que a leitura foi fascinante, ficamos tão felizes ne? HHAHA ri um pouquinho de você contando que foi pesquisar algumas coisas (confesso que faço muito isso!)
ResponderExcluirSó posso dizer que adoro romances históricos. Ótima resenha!
Eu leio bem pouco de romances históricos, mas vou afirmar sem vergonha que fiquei feliz demais ao ler essa resenha.
ResponderExcluirUm calhamaço que a princípio assusta e cheguei ao fim da resenha, já querendo conhecer a vida de todos os personagens.
E só a citação de Coração Valente ganhou ainda mais o meu coração!
Com toda certeza do mundo, é um livro que senti muita vontade ler e claro, aprender!!!Uma verdadeira aula de passado!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Olá, Rodolfo
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar em Boudica, mas já achei a história dela impressionante.
Gosto muito de romances históricos, então já quero ler esse.
Parece ser bem legal!
Beijos
Rodolfo!
ResponderExcluirOs romances históricos são sempre um grande aprendizado de leitura e nos transporta para um mundo completamente diferente, onde podemos conhecer fatos impressionantes.
As personagens parecem ser bem construídas e envolver nós leitores.
Adoro quando tem rotas e mapas.
cheirinhos
Rudy
Oi, Rodolfo! Impossível não sentir vontade de conhecer a história de Boudica depois de ler sua resenha. Um convite e tanto! Eu adoro ficção histórica, autores como Conn Iggulden e Bernard Cornwell. Manda Scott nunca li, mas já quero rs. Sem dúvida, um livro fascinante!
ResponderExcluirExcelente resenha, Rodolfo. Deu vontade de mergulhar nessa historia!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirNáo conhecia essa autora.
Mas por ser fã de romances históricos já fiquei com muita vontade de ler .
Acho que sempre aprendemos mais um pouco da história quando lemos obras assim .
Dica anotada
Olá Rodolfo!
ResponderExcluirAdoro romances históricos mas confesso que desconheço a história de Boudica. Obras descritivas em demasia podem cansar um pouco mas nesse caso acho que vale a pena persistir para conhecer melhor os costumes da época. Gostei de saber que os animais têm destaque na história.
Beijos
Oi, Rodolfo!
ResponderExcluirNão sou muito fã de romance histórico, e confesso que nunca ouvi falar de Boudica... Deve ser por isso que não me interessei em ler Águia... Mas vou esperar ler as resenhas dos outros dois livros da trilogia, quem sabe assim depois de ler eu acabe me interessando em conhecer a história dessa guerreira?!
Bjos!
Olá Rodolfo!
ResponderExcluirCaramba! Só pela resenha ficou nítido que se trata de uma obra muito rica e detalhada, e para os amantes de romances históricos essa característica com certeza é um prato cheio
Boudica parece ter sido uma mulher poderosa e decidida, e deve ser satisfatório acompanhar a personagem em sua trajetória para assumir seu destino junto aos icenos. A parte cultural é outro aspecto que me chamou atenção na resenha, e com certeza terminamos a leitura com muito conhecimento.
Beijos.
Olá! Não conhecia o livro, mas como gosto de enredos que destaquem personagens que realmente existiram, achei muito interessante, acredito que seja um prato cheio para quem gosta desse tipo de leitura.
ResponderExcluirOi, Rodolfo
ResponderExcluirMuito interessante mesmo!
Eu adoro ler tudo sobre história. E esse livro parece ser muito rico e abrangente, com uma história espetacular.
Essa semana vou ao sebo e já vou procurá-lo lá.
Bjs
Só lendo a resenha já deu vontade de pesquisar um pouco mais sobre a história, definitivamente a leitura será um prato cheio tanto para os que gostam, quanto para os que ainda não sabem que curtem (risos).
ResponderExcluir