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24.6.21

[Bookserie] Aurora Vaga-Lume e os Deuses Cromados: Parte 4: CyberJazz no Underground

Bookserie

Aurora Vaga-Lume e os Deuses Cromados

Parte 4: CyberJazz no Underground

Este é o quarto capítulo da Book Série de ficção científica Aurora Vaga-Lume e os Deuses Cromados do autor André Luis Barreto, composta de 6 capítulos. No final da postagem você encontra o botão "Anterior" para voltar para o terceiro capítulo.

Sinopse:
Aurora tem um sonho: virar uma programadora na Pryda Software, uma das maiores empresas de informática do mundo. Porém, eventos inesperados acontecem, forçando-a a trilhar um caminho sombrio no qual sua própria vida estará em risco, contudo, ela finalmente descobrirá do que realmente é capaz.

Capítulo 4:

A claridade fosca ganhava as ruas de El Dorado em mais um dia cinzento. Aurora caminhava decidida, desviando dos viciados espalhados pela calçada. Ativou o HypeMe e procurou por Speto, que costumeiramente já estava acordado naquele horário.

- Tô quase chegando - disse ela, acompanhando sua posição no GPS.

O rapaz respondeu com um emoji sorridente.

O mapa indicava que deveria virar à direita logo após o cruzamento entre a Eurico Funaro e a Quinze de Maio. Assim ela fez, entrando em uma ruela sem nome que mais parecia um beco bombardeado. Os bueiros expeliam uma fumaça branca, neons defeituosos zuniam e ainda se destacavam em meio ao vapor. Um abutre, em seu característico traje de plástico negro e usando uma máscara de ar rudimentar, lutava contra um viciado, tentando lhe roubar o respirador.

Aurora sacou o bastão de choque e correu até o abutre, acertando um golpe nas costelas do meliante, que em resposta gemeu alto, para em seguida se jogar dentro de um bueiro aberto, sumindo em meio a fumaça.

- Saia daqui. E procure ajuda para se livrar dessa merda! - ela gritou para o homem, afastando-se.

Continuou até o final da ruela, que terminava em um grande paredão de tijolos pretos. Olhou para os lados: prédios centenários caindo aos pedaços com portas e janelas bloqueadas por pedaços de metal e madeira.

- Speto, cheguei. Mas não tem porcaria nenhuma aqui, só viciados e abutres!

A imagem do rapaz surgiu no holovisor, seus dredlocks preenchendo quase toda a tela.

- Lembra do que te falei ontem? A Hypernet já era!

Ele então se desconectou. Aurora fez o mesmo. Ativou o NetScan, que mostrou apenas uma rede de baixa potência chamada 'Caronte'. Enfiou a mão no bolso e tirou um papelzinho amassado. Desdobrou-o, lendo a sequência de caracteres. Voltou para o NetScan e acessou a rede, informando os dígitos lidos. Imediatamente, uma interface holográfica surgiu, encaixando-se perfeitamente com a vista do ambiente. Uma porta bloqueada foi destacada em amarelo brilhante, e Aurora foi até ela. Barulho de engrenagens. A porta correu para cima, revelando uma escadaria descendente que desaparecia no breu.

Entrou com cautela, desceu alguns degraus; a porta fechou com um baque, deixando a escuridão dominar. O aviso de toxicidade sumiu do holovisor, indicando que poderia tirar a máscara de ar. Procurou por algum nó na Caronte, mas não havia nada, a rede estava estranhamente vazia. Tentou abrir uma nova conexão com a Hypernet, para contactar Speto, entretanto foi surpreendida pela mensagem "Impossível conectar. Sem sinal."

- Mas que droga! - Gritou para a escuridão.

Repentinamente, luzes verdes se acenderam embaixo dos degraus, sinalizando o caminho. Uma placa de neon vermelho inflamou-se na parede, onde se lia a frase: "Bem-vindo à Caledônia. Uma vida não questionada não merece ser vivida".

Acelerou. Um som abafado foi preenchendo o ar e, quanto mais ela descia, mais nítido e ritmado ele se tornava. "Música?". Então a escadaria terminou em uma saleta, onde, por uma única porta, som e luz entravam. Ao atravessá-la, Aurora deparou-se com algo inesperado: um grande salão repleto de bancadas, mesas, cadeiras, computadores e máquinas desconhecidas. Um teto alto cheio de lâmpadas potentes, robôs desmontados, membros cibernéticos pendurados nas paredes, e muita, muita gente trabalhando naquela parafernália toda. No fundo, um bar movimentado servia um pouco de tudo; ao lado dele, em um palco, uma banda de cyberjazz tocava uma batida hipnótica.

- E aí, Aurora! - Gritou Speto, aproximando-se.

- Cara, que lugar é esse? Como você nunca me falou que isso existia?

O rapaz olhou-a com desconfiança.

- Você tava a meio caminho de se tornar uma gravatinha.

- Diz isso só porque eu fiz faculdade, né? Isso é preconceito.

Ele riu.

- E você tava quase trabalhando para eles!

Aurora deu de ombros.

- Não tem nada de errado em querer melhorar de vida, Speto.

- Você não entende. Enquanto formos escravos dessas corporações, nunca vamos melhorar de vida!

Aurora fechou a cara.

- Tá bom, tá bom. Agora me leva logo para ver o cara. Não posso perder mais tempo.

- É, tô sabendo - concordou o rapaz. - Mas você tá realmente certa de que quer fazer isso?

- Não tenho escolha.

Speto assentiu. Pegou na mão de Aurora.

- Vem comigo.

O rapaz levou-a por entre as bancadas, onde pequenas equipes trabalhavam em projetos de hardware e software, escrevendo códigos, quebrando proteções eletrônicas, projetando gadgets originais. Havia um clima de colaboração e descoberta. Todos pareciam muito empolgados.

Os dois jovens chegaram até o bar e entraram por um corredor que Aurora não tinha notado antes. Ao longo do caminho, havia vários quartos, a maioria sem portas e uns poucos com panos pendurados nas entradas. Em alguns quartos, Cryptopunks e anarquistas de todas as correntes discutiam acaloradamente; em outros, geeks e amantes da cibernética montavam máquinas estranhas bebendo cerveja ao som de muito industrial speedcore, então, um homem com próteses biônicas nos braços passou por eles, carregando uma caixa cheia de pequenos discos holográficos de cor rosa choque.

- Ei! Pera aí, aquilo ali... aquilo ali são SatSims? - Indagou Aurora olhando para a caixa.

Speto piscou para ela e fez um gesto pedindo silêncio. Esperou até o homem sumir de vista.

- Nem tudo aqui embaixo é divertido, gata. A gente tem que dividir espaço com os produtores, não tem jeito.

- Hum, entendi. É assim que vão financiar a revolução, correto? Viciando seu próprio povo. Bacana. - replicou ela.

- Porra, Aurora, eu não concordo com isso. A gente vai ficar aqui só até conseguir nosso próprio financiamento, daí vamos construir o nosso underground.

- É, e vão deixar esses caras continuarem produzindo essa merda. Vocês são mesmo muito idealistas.

Speto não soube o que responder. Preferiu dar as costas e continuar guiando a amiga. O lugar mostrou-se bem maior do que parecia, e, após alguns minutos, os dois chegaram a uma porta de aço escovado, onde foram revistados por um segurança encorpado e bastante alto, vestido de couro preto e com o rosto completamente oculto por um capacete intimidador. Foram liberados; a porta abriu-se, revelando o que parecia ser um escritório. Prateleiras de madeira por todos os lados, repletas de livros e objetos de arte. No canto oposto à porta, um homem de cabelos brancos e barba cerrada, vestindo um elegante terno negro gizado, fumava um narguilé sentado atrás de uma grande mesa de mogno; no lugar de seu olho esquerdo, fixava-se um monóculo cibernético cromado, cuja lente era vermelha, e seu olho vivo apresentava um ar selvagem, incompatível com a idade refletida pelas rugas bem visíveis. Havia duas cadeiras, mas Speto continuou de pé, aguardando o homem terminar sua tragada.

- Bela jovem, mas será que ela vai dar conta do serviço? - disse o sujeito de terno, soltando uma baforada.

Speto preparou-se para responder, mas Aurora adiantou-se:

- Sou formada em Engenharia Quântica Digital, programo desde os dez anos de idade, comecei com vaporizadores agrícolas.

O homem se levantou, exibindo postura ereta, incompatível com sua idade aparente, sorriu.

- É? Muito bom. E qual a sua graça, garota?

- O quê?

- Ele quer saber seu nome - sussurrou Speto.

- A-Aurora, Aurora Rocha.

O ancião estendeu a mão para cumprimentar a jovem.

- Muito prazer, Aurora. Sou Adriatique, armador por profissão, amante das artes por paixão. Por favor, sente-se - virou-se para rapaz. - E você pode ir, Speto, agradecido pela indicação.

- O senhor se importa se ele ficar? - pediu Aurora.

Adriatique franziu as sobrancelhas para Speto, mas assentiu com a cabeça. Os jovens tomaram seus lugares. Aurora notou que toda a superfície da mesa era na verdade um grande monitor responsivo repleto de telas menores, onde habitavam gráficos diversos, dados binários, mapas de cidades e cotações de moedas de símbolos estranhos. As informações mudavam tão rapidamente que ela mal conseguia ler os números.

- Muito bem, Aurora, devo admitir que não temos muitos operativos com curso superior por aqui. Se não me engano, você é a segunda que me aparece em muitos anos.

- Não sei se isso é bom ou ruim - respondeu Aurora, tensa.

O armador riu. Speto exibiu um sorriso amarelo.

- Programa em UnLock? Conhece bem multiprocessamento neural? Já pilotou um drone? - questionou Adriatique.

- Tive um semestre de UnLock, multiprocessamento neural é praticamente minha segunda linguagem, agora, drones? Nunca nem cheguei perto. Mas eu aprendo rápido, muito rápido mesmo.

- É, acho que vai ser mais fácil do que você imagina. E está ciente dos riscos? Speto te explicou tudo direitinho?

- Perfeitamente, senhor Adriatique. Mas ele não me disse o que eu mais quero saber.

- E o que seria?

- Quanto vou ganhar e quem vamos invadir.

A lente vermelha girou dentro do monóculo. O armador exibiu seus dentes dourados em um sorriso enigmático.

- Cinquenta mil cyphers.

"Minha nossa! Isso é mais do que eu preciso", pensou Aurora, apertando a coxa de Speto.

- Mas você só vai saber os detalhes quando estiver pronta, é assim que funciona. E então, dá para comprar um bom coração para o velho Marcos ou não dá?

- O quê !? Como você sabe o nome do meu pai? Como sabe o que aconteceu ele?

Aurora se levantou, pronta para avançar sobre o velho, mas virou-se para o rapaz, que a olhou incrédulo.

- O que você disse para ele, Speto?

- Ele não disse nada, Aurora - interviu Adriatique. - Você acha que chegaria até aqui tão facilmente? Acha que qualquer um pode ser um operativo? Que qualquer um pode trabalhar para mim? Quando pisou naquela escadaria eu já sabia tudo sobre você; por isso você ainda está viva.

- Mas como? - ela olhou para o teto, pensativa, então teve um estalo:

- A rede! A rede wifi Caronte! Vocês me hackearam quando eu me conectei nela!

- Não se preocupe. Não vai te acontecer nada, desde que não abra o bico para a Força Distrital. E então, menina, tá dentro ou tá fora?

Aurora cravou os olhos no armador, encarando-o de forma desafiadora, então proferiu:

- Me leve até o seu drone. Mas se fizer alguma coisa com meu pai, eu juro, vou arrancar o seu coração com minhas próprias mãos.

- É esse o espírito, minha cara, excelente! - respondeu o armador, batendo palmas.

Para navegar entre os capítulos clique sobre os botões "Anterior" e "Próximo" disponíveis abaixo.

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14 comentários em "[Bookserie] Aurora Vaga-Lume e os Deuses Cromados: Parte 4: CyberJazz no Underground"

  1. Mais um capítulo eletrizante e vendo a situação que Aurora passou, senti como acontece todos os dias. É só pesquisar o preço de um par de tênis e todas nossas redes sociais começam a nos mostrar ofertas de produtos similares rs
    O ser espionado o tempo todo e por todos os lados, ainda mais com esse mundinho tecnológico que vivemos!
    Aurora chegou longe, mas acredito que só agora ela saberá de verdade os motivos de ter chegado até ali. Propósito!!!
    Aguardando o próximo capítulo.
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Oi, André! A gente termina já querendo saber os próximos acontecimentos. Aurora não deixa barato, que personalidade ela tem! Eu viajo tentando construir todo o cenário na minha mente. Sua escrita é imersiva e de tirar o fôlego.

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  3. Estava ansiosa por um novo capítulo. E não me decepcionei, ao contrário, foi um capítulo eletrizante! E deixou gostinho de quero mais

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  4. Opa, já estamos na parte 4!!!
    Primeiramente, acho Aurora muito corajosa, acho bem legal como ela enfrenta várias coisas. E já vi que ela se meteu em uma pra conseguir salvar o pai né? Claro que não vou julgar. Acho bem legal tentar imaginar esse universo que você criou, não é fácil, mas vale muito a pena :)
    Ansiosa pra outra parte!

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  5. Difícil a situação da Aurora... Mas dá pra ver que ela é bem determinada, espero que ela consiga ajudar o pai.
    Ansiosa para ler os próximos capítulos!
    Bjos!

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  6. Eita
    André, está bem crítico, hein?
    Vamos ver como será essa missão e se Aurora conseguirá salvar o pai.
    cheirinhos
    Rudy

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  7. Olá,

    Que capítulo emocionante! Fiquei um pouco nervosa kkkkkk
    Torcendo pela Aurora e no aguardo do próximo capítulo

    beijos

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  8. Olá
    Aurora é bem corajosa
    determinada e vai atrás de seu objetivo que é ganhar um dinheiro para ajudar o seu pai .
    Espero que ela consiga .
    Aguardando o próximo capítulo.

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  9. Ah, estou gostando cada vez mais da Aurora, ela é incrível e me parece ser determinada. Gostei do capítulo, bem instigante, esse final deixa aquele gostinho de quero mais.

    Abraços

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  10. Olá André!
    Acho que esse foi o capítulo mis emocionante de todos! Não sei se essa venda da alma ao "diabo" vai acabar pra Aurora, estou apreensiva. Adorei todo o aparto tecnológico do lugar, sua imaginação é muito boa!
    Beijos

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  11. Olá! Espero que a maré esteja melhorando para o lado da Aurora, mas pelo visto ainda temos muitos mistérios para serem revelados.

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  12. E lá vamos nós para mais mistérios, como dizem por aí, que comecem os jogos.

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  13. A imagem desse livro mexe com meus nervos. kkk Mas gostei do capitulo bem elétrico, mesmo conhecendo bem pouco dos livros anteriores. Mas é valida a leitura futuramente.

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  14. Oii,
    Como sempre a Aurora está valente e forte.
    Acredito que teremos um final feliz para ela e o pai, né?! Ela merece por ser tão corajosa.
    Bjs

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