Quando um boato dito várias vezes torna-se verdade absoluta
O livro tem início avassalador e fui me preparando para me deliciar com a leitura de Os três (Arqueiro, 400 páginas) de Sarah Lotz. Com projeto gráfico e capa excelentes, o conteúdo empolgou menos, mas há méritos, inúmeros até.
Título: Os TrêsOnde comprar: Amazon
Autor: Sarah Lotz
Tradutor: Alves Calado
Editora: Arqueiro
Gênero: Thriller e Suspense
Páginas: 400
Edição: 1ª
Ano: 2014
Em um certo dia, conhecido como Quinta-feira Negra, quatro aviões caem em um pequeno intervalo de tempo. Dos quatro aviões sobrevivem três crianças, uma de cada voo. Apenas em um voo não se encontram sobreviventes:
“De modo previsível, semanas depois dos acidentes, o mercado recebeu uma avalanche de relatos de não ficção, blogs, biografias e artigos de opinião aproveitando o fascínio mórbido do público pelos eventos e pelas crianças que sobreviveram, conhecidas como Os Três. Mas ninguém poderia ter previsto a cadeia macabra de acontecimentos que viria em seguida ou a rapidez com que iriam se desdobrar”.
A metalinguagem de se escrever um livro dentro de um livro me atraiu também. Além de na contracapa ter um elogio do mestre Stephen King (já caí várias vezes nesse engodo e continuo caindo). O livro é todo traçado entre capítulos da vida com os “sobreviventes” e a “conspiração” em torno deles.
Cada um dos sobreviventes – Bobby, Hiro e Jess –,após o acidente têm que voltar para suas famílias ou o que restou delas e tentarão viver uma vida normal. Mas há sinais incontestáveis, que se refletirão naqueles que se envolveram direta ou indiretamente com o acidente, de que alguma coisa está errada com as crianças:
“Homem comido vivo por lagartos e aranhas de estimação”.
O estopim para a avalanche de acontecimentos é Pamela May Donald, que consegue sobreviver ao acidente por alguns minutos e deixar uma mensagem pelo celular. Esta mensagem é interpretada pelo Pastor Len a sua maneira. O livro é um exemplo típico de como o fanatismo ou extremismo religioso (morte pela fé) e a consequente loucura podem sair do controle e desencadear fatos absurdos:
“Dava para ver que ia dar algum problema, dava para sentir o cheiro como se fosse um bicho morto na estrada havia dois dias.”
O tom dramático do início da leitura não relaxa em momento algum do livro, pode ser nos momentos antes da morte:
“O rosto vem em sua direção; está tão perto que ela sente a respiração do menino nas bochechas. Tenta se concentrar nos olhos dele. Será que eles estão...? De jeito nenhum. É só má iluminação. Eles estão brancos, totalmente brancos, sem pupilas, oh, Jesus, me ajude. Um grito cresce em seu peito, aloja-se na garganta, ela não consegue colocá-lo para fora, vai sufocá-la. O rosto se vira bruscamente para o outro lado. Seus pulmões estão pesados, líquidos. Agora dói respirar.”
Ou ainda na confissão de um adulto experimentado:
“Ele parecia olhar direto através de mim. Depois... escute... isso vai parecer muito sinistro, mas eles começaram a marejar, como se ele fosse cair no choro, só que ... meu Deus.. isso é difícil... eles não estavam se enchendo de lágrimas e, sim, de sangue.”
Realidade ou não, a verdade é que os sobreviventes não são mais o que eram antes. A partir daí o temor passa a tomar conta daqueles que precisam conviver com eles. Seria culpa do inconsciente coletivo as atitudes advindas deste temor?
Como o lado marginal sempre me chama mais a atenção, minha personagem preferida é Lola Cando, prostituta que tem muito a falar e destrincha a vida de um cliente importante como a melhor das psicólogas. Então podemos notar a hipocrisia contida nas palavras e nas ações deste cliente e que desencadeiam grande parte dos acontecimentos: “Os mansos herdarão a terra”. Será? Sempre questiono isso após sentar para assistir ao jornal televisivo e me deparar com a barbárie institucionalizada.
Outro dado interessante é a menção da arrepiante Floresta de Aokigahara, local comum de suicídios no Japão. A popularidade da floresta como lugar de suicídios surgiu em 1960, na novela Kuroi Jukai (Mar sombrio das árvores), de Seichō Matsumoto, que termina com dois amantes cometendo suicídio na floresta.
O livro não conseguiu me agradar com relação ao ritmo, achei estranho, meio truncado. Há inúmeras demonstrações dos fatos, porém senti falta de um maior aprofundamento das personagens (aí já é um gosto pessoal, nada que atrapalhe a leitura). Constatei-me um tanto quanto obtuso novamente. No final há uma revelação surreal ou filosófica para os acontecimentos que não consegui sacar, um gancho que pode gerar um próximo livro. Isso não invalidou a leitura, mas tornou-a hermética pra mim. Quem se aventura a explicá-la para nós?
Oi, Rodolfo! Li esse livro em 2015 e me recordo de ter achado uma loucura. Sobre os detalhes da história, não lembro de muita coisa, mas ficou marcado a estrutura narrativa, achei bem diferente. O clima tenso de mistério foi algo também muito presente. Lendo as passagens que vc destacou, deu vontade de relê-lo. Sua resenha me fez lembrar a série Missa da meia-noite, com toda a abordagem desse extremismo religioso.
ResponderExcluirTambém não acredito 100% nesses elogios do King. Acredito que ele tenha preparado vários tipos de elogios genéricos que a editora solta como se ele de fato tivesse lido.
ResponderExcluirA trama é intricada e com várias camadas
Isso de ir pelos elogios, principalmente de autores que amamos é Cilada, Bino!Corre rs(mas a gente nunca aprende rs)
ResponderExcluirEu me lembro vagamente de ter visto esse livro há um tempo e a capa é um show à parte, mas sabe quando o enredo não te faz sentir aquela vontade enorme de ler?
Acho que foi assim comigo, pois mesmo agora com a resenha, essa vontade de ler não surgiu.
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
É o típico enredo que costumamos ver sem séries de tv cheios de mistérios, segredos e teorias. Eu já fiquei bem animado para ler, pois não conhecia o livro. Nossa! Fui até pesquisar sobre a Floresta de Aokigahara. Que sinistro!
ResponderExcluirSempre tive curiosidade com relação à esse livro, mas sempre fico com medo de achá-lo tenso e pesado demais, aí acabo não lendo.
ResponderExcluirDanielle Medeiros de Souza
danibsb030501@yahoo.com.br
Olá!
ResponderExcluirPrimeiro vez que vejo algo desse livro e pela sua resenha, a minha vontade de ler ele é zero. Kkkkk
Até achei a história interessante, mostrando a vida dos sobreviventes e tal mas não fiquei com vontade de ler.
Beijos
Nossa, fazia tempo que não via esse livro nas redes... Tem uma premissa intrigante e cheia de potencial, uma pena que o ritmo não tenha agradado e tenha deixado a desejar em relação ao aprofundamento.
ResponderExcluirAbraços
Olá! Livro com plot bem macabro e misterioso, realmente tudo ao extremo é bastante perigoso (religião, política, relacionamentos...), apesar das ressalvas, não há como não ficar tentada a embarcar na leitura, e olha que nem sou lá muito fã do gênero.
ResponderExcluirRodolfo!
ResponderExcluirTive a oportunidade de ler esse livro há um tempo atrás e apesar de concordar com sua análise de alguns pontos obtusos durante o livro, gostei de acompanhar o enredo de certa forma "macabra", afinal, é um thriller que causa expectativa e suspense.
Pelo menos, assim achei.
cheirinhos
Rudy
Ola
ResponderExcluirLendo a sua resenha não consegui sentir vontade de ler
Até gosto do gênero mas esse não me chamou a atenção.
Muito bom o livro gostei!
ResponderExcluirOi, Rodolfo!
ResponderExcluirAcho os elogios nas capas uma furada rsrs, pelo menos isso costuma acontecer comigo, por isso nem os levo mais em consideração :)
Quanto a Os Três, até gosto de livros de thriller e/ou suspense, mas não me interessei pela trama, não fiquei curiosa para descobrir qual é o mistério por trás da sobrevivência das três crianças... Bjos!
Oi Rodolfo,
ResponderExcluirA capa, o enredo..confesso que fiquei interessada nessa atmosfera, será que quando ler vou conseguir desvendar?rs
Adoro revelaçoes surreais e filosóficas u.u
Mas menino, confesso que fiquei um tanto quanto confusa em relação a história e para lá de assustada também (risos), acho que dessa vez vou passar a dica.
ResponderExcluirOi,
ResponderExcluirAchei que parece chatinho, sem muito desenvolvimento.
Mas fiquei curiosa sobre essas mortes, se o que ocorreu nos acidentes e com os sobreviventes tem a ver com alguma seita ou algo assim.
Bjs
Comecei a ler esse livro, no inicio estava bem interessante e empolgante, mas depois foi ficando cansativo e não aguentei a ler. Mas para quem tem paciência, è uma ótima pedida.
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