A arte de fazer inimigos
Podem me chamar de exigente, entre outras coisas, mas muita capa de livro já me fez comprar ou evitá-lo. E a capa de As coisas que você sabe sobre mim (Planeta, 336 páginas) puxou meus olhos de tal maneira que passei a desejá-lo. Um título sugestivo deu mais um empurrãozinho e lá estava eu lendo Clara Sánchez, autora espanhola desconhecida para mim.
Alguma coisa estava fora do eixo: quando comparei aquela loura de olhos verdes da capa com a protagonista de olhos castanhos claros, isso me incomodou bastante. Não entendi o motivo de tal disparidade. Mas vamos ao livro.
Título: As coisas que você sabe sobre mimOnde comprar: Amazon
Autor: Clara Sanchez
Editora: Planeta;
Gênero: Romance
Páginas: 336
Edição: 1ª
Ano: 2014
Patrícia é uma modelo de sucesso, dessas que podem esbanjar dinheiro, porém está chegando a uma idade em que ela não é mais a novidade e o mundo da moda exige algo novo. Ao voltar de uma viagem de avião a trabalho, um pouco antes de quase se arrebentarem com a suposta queda do mesmo, ela é consolada e advertida pela mística Viviana:
“— Não vamos morrer, hoje não. Sairemos da tempestade e voltaremos para casa. Mas existe alguém que deseja que você não viva...”
Um início perturbador e que redundará em todos os acontecimentos vindouros do livro. Acho esta vida de modelo algo fútil, um universo que não me interessa. Ou melhor, não me interessava. O estranho neste mundo é tomar consciência de quantos inimigos se pode fazer até se alcançar um patamar elevado na carreira. De uma maneira ou de outra, todos podem querer a ruína desta linda modelo.
Pode ser sua irmã, que acredita ser o patinho feio da família e nunca obteve êxito como escritora. Pode ser a modelo do momento (Manuela), que não se importa em utilizar beleza e artimanhas para alçar voos mais altos:
“A absoluta falta de temor de Manuela me dava medo. Era uma garota feita de pedaços de mundo, de tudo que ia encontrando aqui e ali, bom e ruim.”
Quem sabe sua chefe Irina, praticamente uma capitã do exército, com conceitos próprios e que nunca se deixa abater, mas que sabe que precisa afastar Patrícia para dar lugar a uma nova modelo:
“A beleza em primeiro lugar... Vocês são a sensação dos outros, não de si mesmas. Vocês não têm coração, o coração só serve para sofrer e fazer sofrer...”
Enquanto tenta adivinhar quem poderia querer lhe fazer mal, começam a acontecer pequenos acidentes que a colocam em alerta. Precisa descobrir se Viviana tem ou não esta capacidade sensitiva ou se é uma charlatã. Em meio a tantas ocorrências desagradáveis precisa administrar os fracassos de seu namorado pintor, Elías, que ela venera:
“Talvez fosse muito magro, pernas magras, braços magros; não gostava de academia, nem de perder tempo cuidando do corpo; eu já perdia pelos dois. Não se importava com seus defeitos, não os escondia nem tentava disfarçá-los; o corpo lhe servia para que ficássemos juntos no sofá, no chuveiro, encostados na parede e em uma boia na piscina, nossos lugares preferidos; todo o resto era secundário. E por isso ninguém podia se comparar a ele.”
Além de nunca se descuidar de sua carreira e ter sempre em mente que o fotógrafo deve amar a modelo da vez, deve captar sua essência e colocá-la sempre no melhor ângulo, com o melhor sorriso:
“Demorou muito além da conta naquela sessão, empenhou-se a fundo, realmente queria que eu deslumbrasse. E eu soube o que ia acontecer como se já houvesse acontecido. Iríamos para a cama, eu me apaixonaria por ele, ele se cansaria de mim, eu sofreria, e a história acabaria; mas quem deixa de comer um tomate porque conhece o sabor? Quem deixa de ver um filme só porque sabe o final?”
Sem contar sua preocupação com dietas:
“Meu estômago trabalhava com pouca coisa, com ilusões, ambição e alguns desenganos, mais que com pão.”
Fico aqui imaginando o suplício de tal profissão. E é por isso também que passei a admirar tanto tais modelos, que de um momento para outro deixaram de ser fúteis em minha mente para se tornarem heroínas. A coisa vai tomando tal dimensão que o texto de Clara nos brinda com uma frase esclarecedora:
“Não há melhor coisa para afastar o medo que o pânico...”
O livro tem suas qualidades, uma premissa legal e foi ganhador do Prêmio Planeta 2013. Porém, é um livro previsível e em momento algum me estimulou como um bom thriller policial. Vale pela curiosidade de se conhecer um pouco mais sobre o universo da moda em toda sua natureza impiedosa e sem compaixão.
Quem quer fazer mal a outrem carrega uma aura negativa e acaba contaminando o ambiente e afetando pessoas, principalmente quando há inveja envolvida na relação. Acredito existir pessoas que conseguem sentir isso. E é aí que este livro prende nossa atenção. Tenha sempre em mente pessoas sensitivas quando estiver lendo este livro e será diversão garantida!
Oi, Rodolfo! Acho que é bastante comum esse pensamento de futilidade diante desse universo glamoroso das modelos. Mas é uma vida de abnegação, dificuldades, competição e muita pressão. O livro parece trazer um pouco disso tudo. E é uma pena ser tão previsível assim.
ResponderExcluirQuanto a questão da capa talvez a foto usada, chame mais atenção do que se fosse uma modelo como a personagem principal.
ResponderExcluirO mundo da moda e das modelos pode ser fascinante e glamouroso de fora mas é problemático demais
Não imaginava que o livro teria essa vibe de thriller
Eu admito que não tinha visto ou lido nada sobre esse livro,e como sou meio assim, com capas desta maneira, talvez nem tivesse dado atenção se cheguei a ver!
ResponderExcluirMas que coisa. Esse universo da moda é totalmente avesso a mim, mas nunca, por uma capa assim, cheguei a pensar que teria essa pitada generosa de mistério e suspense!
A gente imagina que seja uma luta diária se manter ali, em algum lugar de destaque!
Claro que já senti vontade ler!!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Rodolfo!
ResponderExcluirApesar de achar lindo o mundo da moda, é um assunto que não me apetece muito, porém como tem aí um thriller policial, e ainda podemos aprender mais sobre as auguras que as modelos passam, pode ser uma leitura futura.
A capa realmente é fenomenal.
cheirinhos
Rudy
O mundo da moda também não me atrai, acho que tudo é muito artificial, superficial e cruel nesse universo.
ResponderExcluirDanielle Medeiros de Souza
danibsb030501@yahoo.com.br
Eu confesso que essa capa não me atrai, mas a premissa até que chama atenção, principalmente por trazer o universo da moda. Já li um livro com esse universo, e ficou nítido o quanto é glamoroso apenas na frente das câmeras/passarela. Pena que tenha sido uma leitura previsível, acredito que leituras do gênero pedem o contrário
ResponderExcluirAbraços
Oi, Rodolfo!
ResponderExcluirAs diferenças dos protagonistas na capa e na descrição é mesmo bem incompreensível... Parece uma falta de atenção que é bem negativa para mim.
O universo dos modelos também não costuma me interessar, e confesso que o suspense - descobrir quem quer fazer mal a Patrícia - também não me interessou.
Bjos!
Oi Rodolfo,
ResponderExcluirNão conhecia esse livro, sim, a premissa é instigante, hum, pena que não te ganhou como um bom thriller policial, masss quem sabe, colocaria em minha lista de leitura sim, ter em mente pessoas sensitivas durante a leitura? Humm ok, obrigada pela dica.
Olá! Muito bacana quando os livros têm esse poder de mudar nossa visão sobre determinados assuntos né, confesso que a capa não chamou minha atenção não, mas a resenha, com certeza, me deixou curiosa para conferir a história.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNunca que eu iria pensar que o livro trata sobre esses assuntos só pela capa
Fui ler a sinopse dele, e não tive nenhuma vontade de ler, e depois da sua resenha menos ainda kkkkk
Acho que só não é um livro para mim ;/
Beijos
Ola Rodolfo
ResponderExcluirNunca pensei que a vida dessas modelos fosse perfeita. É muita pressão. E logo são substituídas por outras mais magras mais jovens .Ganham muito dinheiro? Sim .mas penso que só vão usufruir de fato de uma vida com mais liberdade quando já não estam mais tanto desfilando.
Não bateu aquela vontade de ler o livro.
Então, confesso que sou desses que já escolhi diversos livros pela capa e também pelos títulos. É ruim quando começamos a leitura não identificamos a arte dentro do enredo. Esse universo da moda é bastante amplo para explorar, então sim, acredito que pode render boas histórias por si só. Eu acho que sou meio sensitivo também quanto às pessoas, as energias de cada um geralmente eu consigo identificar. rsrs
ResponderExcluirEvandro
Só essa primeira frase ai da resenha já chamou minha atenção, porque convenhamos que a arte de fazer inimigos eu entendo (risos), brincadeiras a parte, fiquei sim curiosa com a história, apesar do mistério não ser assim tão misterioso, acho que já está valendo ainda mais para quem quer diversificar um pouco quando o assunto é leitura.
ResponderExcluirTe entendo. Fiquei com pé atrás quando fui comprar o clube do livro dos homens. Ainda bem que comprei, valeu cada centavo. Sua resenha me fez lembrar do diabo veste Prada.
ResponderExcluirGostei muito da sua sinceridade em relação ao livro e amei sua resenha,mas eu também julgo o livro pela capa,kkk. Não leria esse da resenha,não curti o enredo.
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