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11.1.23

Klara e o Sol [Kazuo Ishiguro]

Klara e o Sol

Cortesia do Grupo Companhia das Letras

Kazuo Ishiguro é um daqueles autores que você percebe que é um dos grandes nas primeiras linhas. Assim, logo de cara. E não é nem porque o nome dele geralmente vem acompanhado pelo subtítulo “ganhador do Nobel de literatura”. Embora eu deva admitir que trazer esse tipo de título atrelado ao nome seja, de fato, impressionante e traga uma áurea de “grande escritor”, o que é realmente impressionante é a forma como esse autor brinca com as palavras.

Kazuo Ishiguro
Título: Klara e o Sol
Autor: Kazuo Ishiguro
Tradutor: Ana Guadalupe
Editora: Companhia das Letras
Gênero:Ficção Científica
Páginas: 336
Edição:
Ano: 2021
Onde comprar: Amazon

Ishiguro tem uma escrita muito própria, muito poética e muito dele e um jeito quase irritante de deixar as coisas no subentendido. Digo “quase irritante” porque metade da graça de ler Ishiguro é recolher as pistas que ele deixa sutilmente pelo caminho e ir montando aos poucos um quebra-cabeças.

Ishiguro não para explicar nada. Ele não tira um tempo na narrativa para te contar porque que seu mundo é como é, ou como a ciência evoluiu até aquele ponto, ou ainda que tipo de tecnologias existem ou de que tecnologias reais elas são derivadas. Não, Ishiguro segue tecendo sua narrativa poética e cuidadosamente, contando sua história com calma, sem pressa e revelando ao leitor apenas aquilo que é pertinente naquele momento específico… Ele não diz: então, nesse mundo aqui existem androides humanizados que servem de companhia para solitários adolescentes geneticamente aprimorados que estudam em casa.

Ao invés disso ele te apresenta à Klara e a curiosidade e poder de observação dela. É através dos olhos de Klara e de sua percepção subjetiva das coisas que vemos o mundo. É com Klara que aprendemos como as coisas funcionam. Mas Klara é ingênua e uma parte do sentindo real e brutal das coisas lhe escapa e ao leitor também, se não estiver atento pra enxergar nas entrelinhas aquilo que o autor apenas sugere.

Klara é uma AA, uma amiga artificial que passa a primeira parte do livro (ele é divido em 6 partes) observando o compreendendo o mundo pelas vitrines da loja na qual está. Klara é uma mercadoria, um “robô”, algo a ser exposto e, com sorte, vendido. E ela espera e observa, mesmo quando está nos fundos da loja, longe da vitrine que lhe serve de janela para o mundo, mesmo no escuro, mesmo sem nada mais pra fazer além de esperar e observar. Até ser escolhida e comprada para servir de companhia pra Josie, uma adolescente de saúde frágil que mora com a mãe numa propriedade no campo. O livro é sobre Klara e o modo como ela vê as coisas que a cercam, sobre sua inocência que culmina na tentativa quase fabulesca de conseguir a ajuda do Sol para curar Josie.

“Entendi que, apesar de toda a sua gentileza, o Sol estava bastante ocupado; que muitas pessoas além de Josie demandavam sua atenção; que era de se esperar que o sol esquecesse de casos individuais como o de Josie, ainda mais que ela parecesse bem cuidada por uma mãe uma empregada doméstica e uma AA”

Klara e o Sol é quase uma fábula infantil permeado com dilemas filosóficos profundos demais para uma criança. Assim como em Não Me Abandone Jamais (livro pelo qual ele ganhou o Nobel), Ishiguro não está preocupado em explicar as tecnologias e embasamentos científicos para sua construção de mundo, ao invés disso, ele está muito mais interessado em mostrar o lado humano de seus personagens.
Mesmo que sua personagem principal não seja um ser humano de fato.

Aos fãs do autor eu digo: vai na fé, que esse aqui é Ishiguro sendo Ishiguro, com todas as suas sutilezas e linguagem poética. Aos viajantes de primeira viagem, sugiro calma e parcimônia porque é assim que ele escreve. Ishiguro não é a leitura mais leve e fácil que você vai encontrar por aí, mas sem dúvidas, vale à pena.

Aos fãs do autor eu digo: vai na fé, que esse aqui é Ishiguro sendo Ishiguro, com todas as suas sutilezas e linguagem poética. Aos viajantes de primeira viagem, sugiro calma e parcimônia porque é assim que ele escreve. Ishiguro não é a leitura mais leve e fácil que você vai encontrar por aí, mas sem dúvidas, vale à pena.


17 comentários em "Klara e o Sol [Kazuo Ishiguro]"

  1. Oi, Andressa! Eu adoro escritas desafiadoras e Ishiguro está na minha lista faz um tempinho. A história de Klara, uma amiga artificial, me pareceu ter muito da pureza das crianças, esse cuidado de obter a cura através do sol. Deve ser uma leitura cheia de encanto!

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  2. Acredita que ainda não li nada de Kazuo? Pois é e olha que os elogios às suas obras são infinitas e lendo essa resenha poética sobre esse livro, entendo os motivos.
    Isso de mostrar o lado humano, a realidade, os sentimentos, deixando a parte das explicações de lado, é impressionante!
    E claro que já senti uma vontade ainda maior de conhecer não somente esse livro, mas outros também!!!
    Listinha de desejados pra já!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  3. Uau, Andressa! Que livro poético!
    Não conhecia o livro mas já estou encantada com a história de Klara

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  4. Oi, Andressa!
    Não conheço a escrita do Ishiguro, mas confesso que não curto muito narrativas do tipo poéticas, e prefiro quando o autor deixa tudo as claras, sem deixar nas entrelinhas, principalmente quando se trata de um livro do gênero ficção científica, um gênero que tenho uma certa dificuldade para embarcar e enterder o universo contado pelo autor.
    Bjos!

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  5. Não costumo ler ficção científica, mas fiquei intrigada com esse tema sendo contado de forma um tanto poética.

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  6. Andressa!
    Nada li ainda do autor, mas vejo muito falarem sobre ele.
    E para mim basta ver um 'ficção'(?) escrita de forma poética e com muitas reflexões, me apetece muito para uma leitura com parcimônia.
    cheirinhos
    Rudy

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  7. Olá,

    É a primeira vez que vejo algo desse autor, e confesso que fiquei bem curiosa!
    Faz tempo que li algo de ficção científica, será que esse é o próximo? Haha

    Beijos

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  8. Uau... Eu não conhecia o autor, mas agor fiquei bem interessada, mesmo tendo dificuldade com livros que trazem essas questões científicas. Ter a chance de ler um autor premiado é bem atraente, e o fato de ser uma escrita poética e precisa também me chama atenção. E a personagem central dessa história é intrigante. Vou procurar para saber sobre o livro premiado também.

    Beijos

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  9. Olá Andressa, essa deve ser a primeira vez em que leio uma resenha sobre um livro de ficção científica com tons poéticos. Que novidade! Na verdade nunca me passou pela minha cabeça ignorante esta mistura e achei diferente. Porém, com tantos livros na lista para me debruçar, acho que esse não chamou muito minha atenção, embora esteja incluído em um dos meus gêneros favoritos. Fico aqui pensando que outros gêneros totalmente distintos possam ser misturados em uma única narrativa, espero encontrar mais livros assim. Cheirinho de livro novo.

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  10. Ainda não li nenhum livro do autor, mas sinto muita vontade. Acho que essa parte de não parar para explicar ia se uma pedra no caminho da minha leitura gosto das coisas bem explicadas kkkkk

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  11. Oi Andressa,
    Já conheço as histórias de Kazuo Ishiguro, sempre que vejo uma nova obra dou atenção, fiquei curiosa com o tom de quase fábula infantil de Klara e o Sol, só de ler a resenha já comecei a refletir~
    E o tom poético me encanta.

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  12. Ainda não tive o prazer de ler o autor, mas já fiquei extremamente encantando com essa forma de narrativa, onde funcionamos como os olhos da personagem AA. Esse lado humano me lembrou as sensações que tive ao assistir o filme AI - Inteligência Artificial, a dedicação daquele garotinho robô nunca me saiu da lembrança.

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  13. Ola
    Não conhecia o livro .Ficção científica não é um genero que me chama a atenção porém esse livro parece ser diferente por trazer um personagem robô que parece ter sentimentos, mas só parece.afinal são robôs.

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  14. Esse foi meu primeiro (e provavelmente o último) livro do Kazuo que leio. Costumo dizer que o autor escreve livros de ficção científica para quem não curte ficção científica. 😅

    Pra quem lê muita FC percebe que os dilemas discutidos por Ishiguro não são novidades. Outros autores trabalharam com os mesmos temas lá trás, anos 70, 80, 90. O problema, a meu ver, é que as pessoas tendem a desmerecer o gênero, achando que é só sobre navezinhas e robozinhos, incapazes de enxergar as discussões sociológicas, políticas, afetivas, tecnológicas por baixo.

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  15. Olá! Parece ser daqueles livros que devem ser lidos com muita calma, pois cada linha tem muito mais a nos dizer do que pensamos né, ainda não conheço a escrita do autor, mas confesso que a resenha me deixou bem curiosa.

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  16. Não li nada desse autor, mais gostei bastante da sua resenha, pois fiquei curiosa, vou adicionar na minha lista de leitura.

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  17. Mesmo receosa quanto a leitura, afinal, o gênero não me agrada muito, fiquei empolgada em relação a história, ainda mais por conta da leitura ser bem mais que termos difíceis.

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