Cortesia do Autor
Estamos no Brasil, em algum momento no futuro distante. Nesse mundo, o esporte mais popular é um torneio onde robôs especiais, os titãs, se enfrentam em ringues tecnológicos.
O mundo se recupera de uma guerra contra as máquinas. A Liga de Combatitans se torna cada vez mais popular, trazendo um entretecimento necessário para curar as feridas do confronto. É nesse cenário que conhecemos Ari, um jovem de dezesseis anos que acaba de se mudar para a megacidade Rio-Sampa, onde vai morar com seu avô, Isaac.
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Título: Combatitan: Vida artificialOnde comprar: Fantasticos Editora
Autor: L. Maforte
Editora: Fantasticos
Gênero: Ficção científica/Cyberpunk
Páginas: 416
Edição: 1ª
Ano: 2024
O senhor Isaac é cheio de mistérios, mas é gente boa. Ele possui uma oficina de robôs e construiu seu próprio combatitan, Kranu. Em um gesto inesperado, Isaac presenteia Ari com o titã, incentivando o neto a participar dos torneiros.
“O velho Isaac estava ali, parado junto ao androide. Era todo sorriso. Encontrá-lo ao vivo foi diferente da experiência que teve nas duas vídeochamadas da última semana. Sempre tem aquilo que a câmera não revela, como a barriga saliente e o inesperado abraço apertado com tapinha nas costas.”
Apesar de ser de uma geração anterior, Kranu possui muitos aprimoramentos, inclusive tecnologias não convencionais. Ele é fruto do trabalho de Isaac e aloja parte dos mistérios do avô. Além disso, o robô possui uma personalidade única, evolutiva, que entra em constante atrito com Ari. A relação entre os dois é um dos pontos fortes da obra, levantando muitas questões que logo vamos encarar no mundo real. Será que formas de vida artificial são tão diferentes das biológicas? Devemos submetê-las a uma hierarquia? Elas merecem respeito? Devemos confiar nelas?
O conflito homem-máquina é recorrente na ficção-científica. Em Combatitan, como ele já aconteceu, a sociedade precisa encarar o fato que sem máquinas, não existe civilização. L. Maforte trabalha essas questões em seu Worldbuilding, apresentando um Rio de Janeiro caótico e muito familiar. As diferenças sociais escancaradas, porém ligadas pela tecnologia, que dita a vida nas comunidades e nos condomínios de luxo.
As batalhas nas arenas são outro ponto forte do livro. O autor as descreve de uma forma muito visual. Além da ação brutal no melhor estilo Cyberpunk, elas servem para amadurecer a relação entre Ari e Kranu. Durante os combates, percebemos ao lado de Ari que Kranu não é um titã qualquer. E quando o rapaz inicia sua busca por respostas, uma face sombria do mundo se revela, os levando por um caminho perigoso e surpreendente.
Combatitan é um dos livros mais originais que já li. Não vejo paralelos na literatura recente de FC brasileira. A escrita de L. Maforte é envolvente, dinâmica e flui com muita facilidade. A trama prende, muitas vezes criando situações de tirar o fôlego, o que me fez não querer parar de ler. Acho que precisamos de mais livros assim na FC nacional. Altamente recomendado.

Mini entrevista com L. Maforte
1. O que o levou a escrever Combatitan?
Antes de mais nada, gostaria de agradecer pela oportunidade de fazer parte desta review e colaborar com minha humilde participação no Ler Para Divertir.
Combatitan nasceu de uma ideia muito antiga onde eu me imaginava em um lugar novo, cheio das coisas que eu curtia e vivendo experiências que seriam possíveis naquela realidade, mas impossíveis no momento atual. Eu queria viver e experimentar uma realidade nova e ficava imaginando ideias, cenários e eventos... Sempre misturando um pouco disso, um pouco daquilo e no final eu sempre chegava na mesma conclusão: Ia ser muito maneiro se isso fosse de verdade. Essas ideias ficaram tanto tempo fermentando que resolvi escrever sobre isso tudo.
2. Imagino que as influências para o livro foram muitas, mas se você pudesse citar as três maiores seria maneiro.
Sem sombra de dúvidas, minha primeira e maior influência é Dragon Ball, Akira Toriyama. O clássico, quando Goku saiu pelo mundo conhecendo pessoas e vivendo aventuras. Outra influência que todos vão notar de cara ao ler Combatitan é Pokémon. Acredito que muita gente sonha em alcançar o topo algum dia e ter sucesso no que faz. Ser o melhor do mundo. A obra de Satoshi Tajiri me deu a inspiração para pensar em sair por aí descobrindo coisas, adquirindo mais e mais experiência, ficando cada vez mais melhor enquanto enfrenta lutas em torneios cada vez mais difíceis. A terceira influência e que não pode ficar de fora é Isaac Asimov. Acho que sua obra Fundação pode ser mencionada, mas gosto de pensar nessa influência mais como um todo e não em um ponto específico. O cara foi incrível. Escreveu muito, escreveu bem, e abordou muitos temas diferentes no decorrer de sua carreira. Ele conseguia juntar muitos assuntos em uma narrativa só e contar histórias que poderiam de fato vir a acontecer algum dia. Ele escreve sobre coisas que são muito reais. Isso com certeza me inspirou muito.
3. Como você enxerga, como um autor iniciante, o mercado para literatura fantástica no Brasil? É possível competir com os autores de fora?
Este é um assunto que envolve muitos fatores e desdobramentos. Sério. Poderíamos falar sobre isto por algumas horas. Mas, usando bastante o poder de síntese e acreditando no conhecimento prévio de todos vocês, é possível, sim, competir no mercado nacional. Contudo, se trata de uma disputa muito desigual. Quando o autor está expondo seu trabalho, ele além de ter escrito toda a obra e divulgado, ele precisa arcar com todas as despesas de estar ali. Foram anos escrevendo, revisões e retrabalhos, depois a publicação, impressão, envio, fazer toda a divulgação, fechar com eventos, bancar financeiramente a participação, levar o material e não apenas o livro impresso, deslocamento, alimentação, etc. Este trabalho para no final, um outro estande colocar uma pilha de livros de um autor internacional que já fez sucesso na terra dele, já conseguiu repercutir na mídia e agora está lançando seu novo volume da saga no solo brasileiro. O leitor médio vai olhar para o livro do famoso e pro seu. Em questão de dinheiros, os dois custam praticamente a mesma coisa, mas 90% das pessoas vão escolher o famoso, porque daquela obra ele já ouviu falar. Ali tem o que gosto de chamar de “a peneira da qualidade”. Aquele livro já competiu com seus iguais. Fez sucesso. Agora está ali aproveitando todo o esforço que o autor também teve no início dele. Então, o cenário nacional não é fácil. Cabe ao autor fazer o diferencial, uma vez que ele está ali, presencialmente, nos eventos ou na rede social, de arregaçar as mangas, olhar para o possível leitor e dizer: meu livro tem tanta qualidade quanto aquele dali. Chega mais pra cá que vou te contar as coisas legais que coloquei na história.
4. Criar mundos imaginários convincentes é sempre bastante complexo. Em Combatitan, o mundo é bastante crível, inclusive as tecnologias descritas. Como foi esse processo de construção de universo? Quais as principais fontes que você usou?
Vamos por partes. Combatitan é uma baixa fantasia, se passa no nosso mundo, então “as regras” já estavam prontas quando comecei. Porém, o que faz ele ser crível é a verdade que ele carrega. As cenas, as personagens, os dilemas, as reações, os conflitos, tudo isso foi tirado do mundo real, de pessoas reais e de situações reais. É impossível você não olhar para uma página e se enxergar passando a mesma situação ou até tomando as mesmas decisões. Já em matéria de tecnologia eu precisei de mais trabalho. Foram anos me aprofundando em física Newtoniana e física Quântica. Até mesmo astronomia eu precisei aprender. Eu precisava entender o mundo de verdade e suas regras, para depois, a partir delas, criar novos cenários e novas condições para sustentar as ciências que o livro carrega. Em um provável mundo futuro, eu não espero que as coisas sejam criadas por mágica “só porque sim”. Não que eu não goste da mágica, mas eu queria criar algo real. Tudo vem de algum lugar e tem um motivo de ser daquele jeito. Então eu pensei em coisas que você tivesse dentro da sua casa hoje. Depois de analisar bastante nossa realidade e as regras que usamos, eu só precisei (é até engraçado dizer “só”) pegar tudo que temos hoje e aplicar a futurologia, projetando opções de tudo isso, como tudo vai funcionar e como a própria sociedade vai evoluir e se comportar quando tiver tudo isso no seu dia a dia. Um mundo complexo, vivo, que não para, com pessoas reais, fazendo coisas reais, com tecnologias “reais”.
5. Muitos autores iniciantes preferem não arriscar e montar seus mundos em países estrangeiros, com uma forte presença do inglês. Mas em Combatitan, tudo se passa no Brasil. Algum motivo especial para essa decisão?
Claro que tenho. Eu sou brasileiro, nasci no Brasil, falo português, conheço bastante do Brasil (o google me ajuda bastante nessa hora) e acredito que nossa cultura é tão boa quanto qualquer outra (Na verdade, eu ia dizer que tenho orgulho de ser brasileiro, mas a frase soou tão cafona que resolvi reescrever). Quando os autores decidem escrever sobre “lá fora” eles fazem uma escolha, acredito eu, embasados em um motivo próprio. Não julgo ninguém, pois quando projetei Combatitan eu também tinha meus motivos. Eu queria escrever para os brasileiros uma história que se passa no Brasil, da mesma forma como vivemos aqui, com toda nossa cultura e “jeitinho”. Uma história feita por brasileiro, para brasileiros e que se passa no Brasil. Isso é algo que nenhum famoso internacional vai conseguir fazer melhor do que eu.
6. A personalidade de Kranu e um dos pontos mais interessantes do livro para mim. Como você a desenvolveu? Teve muita pesquisa envolvida?
Claro que teve pesquisa. Oxi. Tudo no livro foi bem pensado para entregar o máximo de qualidade que meu leitor merece. Com Kranu não foi diferente. O livro trata do desenvolvimento e amadurecimento dos personagens, então eu projetei ele para começar o livro com uma personalidade mais infantil, devido ao seu background com seu primeiro dono. Por motivos que são explicados no decorrer da história (não vou dar nenhum spoiler aqui) a mentalidade e personalidade do robô permanecem “travados”. Quando a coisa começa a acontecer de fato, essas travas são removidas e o robô adota uma postura muito mais expansiva, aprendendo com tudo que vê e experimenta. Da mesma forma que acontece com qualquer criança quando está naquela fase entre a pré-adolescência e a adolescência. Claro que isso me consumiu muito tempo de pesquisa para entender como são as mentalidades, os comportamentos e até a curva de aprendizado. Para piorar isso tudo teria que acontecer em uma máquina, então a coisa se torna mais complexa, com mais elementos e detalhes para se atentar. Acho que no fundo eu queria criar uma máquina que fosse “humanizando” conforme amadurece.
7. E após Combatitan, quais seus próximos planos? Teremos uma continuação? Outras histórias se passando no mesmo universo?
Claro que sim. Atualmente estou escrevendo uma antologia chamada “Marte: Culturas”, um derivado que se passa no mesmo universo de Combatitan. Na verdade, o meu plano é escrever diversas outras obras, com temas diferentes, mas todas se passando no mesmo universo, com elementos de referência cruzada entre si. Além disso, a continuação de Combatitan está a caminho. Alguns capítulos até já estão escritos. Ou seja, novidades estão garantidas.
Muito Obrigado!
Eu que agradeço novamente pelo carinho e pela atenção, sua e de toda a equipe trabalhando dentro da Ler para Divertir.
Desejo sucesso a todos. Obrigado.
instagram do autor: https://www.instagram.com/andrelmaforte/
Ainda que meu conhecimento em fc em literatura nacional e estrangeira seja pouco, eu nunca vi nenhuma obra como Combatitian. E achei bastante crivel....
ResponderExcluirE também curti muito a entrevista